Desafio da Reprodução Assistida na endometriose intestinal

Desafio da Reprodução Assistida na endometriose intestinal

Desafio da Reprodução Assistida na endometriose intestinal.

A Reprodução Assistida têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de infertilidade humana. É possível realizar a técnica mesmo com endometriose?

Endometriose é a presença de endométrio, epitélio que reveste a cavidade interna do útero fora do útero infiltrando os órgãos da pelve e abdome como o intestino por exemplo.

Com o avanço nos conhecimentos e a melhora dos equipamentos de imagem, o diagnóstico clínico passou a ter  enorme relevância ficando para a cirurgia apenas o papel de confirmar, estadiar e tratar a doença em mulheres sintomáticas.

Endometriose provoca infertilidade segundo dados da literatura com acometimento intestinal cada vez mais presente.

A endometriose deve ser considerada como um problema sistêmico em relação às questões reprodutivas independente de onde esteja com principais mecanismos de infertilidade a distorção anatômica, a diminuição da reserva ovariana, a baixa qualidade oocitária e embrionária, a implantação deficient com fluido peritoneal citotóxico na função dos espermatozóides e na sobrevivência do embrião.

Várias metanálises mostram que as mulheres com endometriose submetidas a Fertilização In Vitro apresentam piores taxas de fecundação, maior taxas de perdas gestacionais, menores taxas de implantação e taxa aumentada de complicações obstétricas em relação às mulheres sem endometriose.

A cirurgia é importante no tratamento da endometriose, restabelecendo  a anatomia,  aliviando a dor e diminuindo a resposta inflamatória, principalmente após o advento da laparoscopia com imagens em 3D, resolução 4k que com um melhor planejamento cirúrgico com equipe multidisciplinar possibilitou abordagens até então pouco realizadas.

A ESHRE através dos seus guidelines mais antigos coloca que a eficácia da cirurgia da endometriose antes da FIV não estaria bem estabelecida.

Um artigo (*) publicado no JMIG em 2021,  Impact of Surgery for Deep Infiltrative Endometriosis before In Vitro Fertilization: A systematic Review and Meta-analysis” mostrou que existem evidências suficientes para mostrar o papel da  cirurgia da endometriose antes da FIV.

Grande parte dos cirurgiões (geral, coloproctologista e oncológico) não tem formação em infertilidade e muito menos são especialistas na endometriose. 

Da mesma forma, vários centros de reprodução humana não têm protocolos específicos para endometriose por acreditarem que a FIV seja soberana e não agrava os sintomas, não acelera a sua progressão ou aumenta a sua recorrência. Muito diferente do que vivenciamos na prática.

Nós médicos não temos obrigação de fim e sim de meio, ou seja, precisamos informar e oferecer o melhor,  mais seguro  e com melhores resultados.

A Fertilização In Vitro não é tratamento de endometriose!

Ela é uma ferramenta muito importante na abordagem da infertilidade em qualquer paciente, ainda mais com endometriose.

Na busca por respostas às vezes precisamos esquecer as generalizações e traçar limites: Como proceder com uma paciente infértil com endometriose no reto (2 cm e 30% da circunferência)?

Um ponto a favor da FIV seria no caso de paciente assintomática, sem dor. Será que existe endometriose intestinal assintomática? Análise difícil como separar o joio do trigo.

Outro ponto a favor da FIV  na vigência de sintomas seria a eficácia do bloqueio prolongado da endometriose por 3-6 meses (com análogo do Gnrh) com melhora em até 4 vezes dos resultados de gravidez. 

Em contrapartida,  perderíamos menos tempo com a realização de uma cirurgia completa da endometriose, sem contar com os efeitos semelhantes à menopausa provocados pela medicação.

Diante da questão tempo, pode-se propor uma coleta de óvulos com fertilização de embriões que serão congelados e transferidos após a cirurgia. 

Apesar do aumento do número de clínicas de reprodução assistida os valores são elevados, as medicações caras e os procedimentos não são contemplados pelos planos de saúde e muito menos pelo SUS.

Publicada no D.O.U dia 19.11.92-seção I, página 16053, as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida  tem como um dos princípios gerais:

 “As técnicas de Reprodução Assistida (RA) têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de infertilidade humana, facilitando o processo de procriação quando outras terapêuticas tenham sido ineficazes ou ineficientes para a solução da situação atual de infertilidade”

Cirurgia deve ser primeira linha diante do envolvimento intestinal pela endometriose com significância estatística (OR-2,43) conforme artigo citado (*).

Embora a razão exata da melhora possa trazer dúvidas, o restabelecimento da anatomia favorece e muito a punção e coleta ovular. 

Um eventual dano a reserva ovariana depende do procedimento realizado e do cirurgião. Aí temos um problema na escassez de serviços capazes de realizar esta cirurgia com mínimos danos e máximos benefícios independente da forma de remuneração (planos de saúde, SUS ou particular).

 As complicações obstétricas são mais frequentes em pacientes de reprodução assistida e agravadas na presença da endometriose. 

A gravidez também não é tratamento da endometriose. Algumas mulheres têm a doença controlada durante a gestação mas com riscos obstétricos elevados.

Alguns desses riscos são a placentação anômala, abortos espontâneos, pré-eclâmpsia, retardo de crescimento intra-uterino, placenta prévia, descolamento prematuro de placenta, hemorrágias anteparto, parto prematuro, ruptura uterina, cesariana, recém-nascido de baixo peso, natimorto e hemorragias pós-parto.

Postergar cirurgia aumenta morbidade e mortalidade, mesmo em pacientes sem menstruar devido aos risco de perfuração intestinal ou obstrução conforme alguns raros relatos na literatura.

Não podemos esquecer que a cirurgia e a FIV também apresentam taxas de complicações que não podem ser negligenciadas.

Na FIV temos hiperestímulo em até 7%,  sangramento em 1,3%, infecção em 0,9% e piora da endometriose em 0,4% conforme artigo(*).

Na cirurgia, as complicações maiores e menores variam de 3 a 7% em função da gravidade da doença e do serviço onde é realizada.

O último ponto a ser considerado são os fatores prognósticos como a idade, a reserva ovariana, a paridade e o fator masculino que têm pesos diferentes mas ajudam na seleção daquelas pacientes que se beneficiaram mais rapidamente da reprodução assistida! 

O contraponto vem da necessidade do bom senso médico prevalecer em priorizar a fertilização in vitro sem falhas da cirurgia ou priorizar a cirurgia sem falhas de FIV!

A mulher moderna de hoje tem mais conhecimento devido a globalização e é muito mais exigente que a mulher do passado na sua busca por resultados.

Precisamos conciliar a medicina baseada em experiência e a medicina baseada em evidência com a medicina baseada em inteligência.

Em um futuro próximo, a inteligência artificial (computador) vai nos ajudar a analisar todas as variáveis de uma pessoa, selecionando não necessariamente o melhor estudo com as melhores evidências e sim o que melhor atende aquela paciente de forma individualizada.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

Endometriose e infertilidade: entendas as causas e os tratamentos

Endometriose e infertilidade: entendas as causas e os tratamentos

(Foto: Reprodução/Pexels)

Endometriose e infertilidade: entendas as causas e os tratamentos

Neste mês da conscientização da endometriose, o março amarelo, velhas perguntas recebem  novas respostas.

Endometriose é a presença de endométrio, glândula ou estroma (epitélio que reveste a cavidade interna do útero) fora do útero com característica inflamatória, evolutiva e estrogênio dependente que acomete uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva.

A endometriose parece estar cada vez mais prevalente (número de casos existentes de uma doença em um dado momento, antigos e novos) o que gera um questionamento se o seu aumento seria decorrente de fatores de risco (mulher moderna que menstrua cada vez mais, retarda a gestação, amamenta menos e têm menos filhos), se estamos fazendo mais diagnósticos devido a melhora dos métodos propedêuticos ou ambos.

A endometriose tem como padrão ouro para se fazer o diagnóstico o procedimento cirúrgico (Laparoscopia) através da visualização e do estudo histopatológico das biópsia realizadas, embora nos dias de hoje o papel da cirurgia seja de confirmar, estadiar e tratar a doença adequadamente em um mesmo tempo cirúrgico.

Na prática percebo que a incidência (frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo de tempo)  parece continuar a mesma, principalmente pela falta de trabalhos e meios diagnósticos não invasivos, baratos e reprodutíveis capazes de dizer o contrário.

Em contrapartida é visível no nosso dia a dia como a gravidade dos casos vêm aumentado com diagnósticos ainda tardios apesar de todas as tentativas em divulgar e conscientizar sobre a doença.

Se digitarmos hoje em um site de busca de artigos médicos (Pub med) a palavra endometriose e infertilidade, teremos mais de 1500 artigos disponíveis nos últimos 5 anos, pesquisas com objetivo de nos ajudar a dar novas respostas a velhas perguntas.

Endometriose e infertilidade: quais são as causas?

Existe uma relação positiva entre endometriose e infertilidade primária (mulher que nunca engravidou) em 26 a 39% dos casos. Se considerarmos infertilidade secundária (mulher que já engravidou), os valores são de 12 a 25% dos casos segundo dados da literatura quando afastada outras causas.

Endometriose e infertilidade: As mulheres modernas estão tendo mais dificuldade para engravidar devido a endometriose? Sim.

A endometriose está mais prevalente e em estágios mais avançados associado ao fato de que as mulheres estão tendo filhos mais velhas. A idade é o principal fator de risco para desenvolver endometriose e infertilidade.

A endometriose deve ser considerada como um problema sistêmico em relação às questões reprodutivas independente de onde esteja (doença peritoneal, infiltrativa retroperitônio, ovariana ou intestinal) estando presente em até 45% das mulheres inférteis no cenário atual.

Possíveis mecanismos de infertilidade provocado pela endometriose são a distorção anatômica, diminuição da reserva ovariana, baixa qualidade oocitária e embrionária, implantação deficiente, fluido peritoneal com altas concentrações de citocinas, fatores de crescimento com macrófagos ativados, efeito tóxico na função dos espermatozóides e na sobrevivência do embrião, expressão aberrante de genes no endometrio eutópico e ectópico.

A fertilização in vitro (FIV) tem melhorado as taxas de gravidez nestas mulheres? Sim.

Vários estudos mostram que apesar das pacientes com endometriose submetidas a  FIV apresentam piores taxas de fecundação, maior taxas de perdas gestacionais, menores taxas de implantação e taxa aumentada de complicações obstétricas (aumento nas taxas de trabalho de parto prematuro, ciur, pré-eclâmpsia,…) em relação às mulheres sem endometriose, a FIV otimiza e muito a gestação sem provocar perda de tempo, fator prognóstico importante neste processo.

Apesar dos grandes avanços nas técnicas de reprodução assistida os resultados nestes grupos de pacientes com endometriose continuam desafiadores com melhora apenas quando realizamos um bloqueio prolongado da doença por 3-6 meses com medicação (análogo do Gnrh) ou após a realização de uma cirurgia inicialmente ótima ou sub ótima.

O advento de novas tecnologias, a melhora das habilidades cirúrgicas têm ajudado as mulheres com endometriose a engravidar? Sim.

A cirurgia tem papel importante em tratar a endometriose, restabelecer a anatomia,  aliviar a dor e diminuir a resposta inflamatória provocada pela endometriose, otimizando a gravidez.

O acesso laparoscópico (robótico opcional), a melhora do treinamento dos cirurgiões, a formação de equipes cirúrgicas multidisciplinares e o melhor planejamento cirúrgico tem contribuído para o maior sucesso reprodutivo destas pacientes tratadas em relação às não tratadas, otimizando a gravidez em ciclos naturais e induzidos com eventual  ajuda da FIV.

Um artigo de revisão sistemática e metanálise recentemente publicado no JMIG no final de 2021 deixa claro que existem evidências suficientes para mostrar que a cirurgia da endometriose melhora os resultados antes da FIV, diferente do que vinha sendo difundido por especialistas.

Um dos segredos consiste em tentar não postergar a gravidez após realizar uma cirurgia, pois temos maior sucesso e menor recidiva em comparação às pacientes operadas que aguardaram alguns anos para engravidar.

O estadiamento da endometriose associado a fatores prognósticos como idade, reserva ovariana, paridade e fator masculino têm pesos diferentes mas ajudam na seleção daquelas pacientes que se beneficiaram mais rapidamente da reprodução assistida! 

Publicada no D.O.U dia 19.11.92-seção I, página 16053, as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida  tem como um dos princípios gerais:

  “As técnicas de Reprodução Assistida (RA) têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de infertilidade humana, facilitando o processo de procriação quando outras terapêuticas tenham sido ineficazes ou ineficientes para a solução da situação atual de infertilidade”

Importante ressaltar ainda que a FIV não é tratamento de endometriose!

Ela é uma ferramenta muito importante na abordagem da infertilidade em pacientes com endometriose!

Apesar do aumento do número de clínicas de reprodução assistida os valores ainda são elevados (decorrente dos custos altos e dolarizados de alguns materiais e equipamentos além das muitas exigências para se manter uma clínica segundo as normativas da Anvisa) e os procedimentos não são contemplados pelos planos de saúde e muito menos pelo SUS.

Da mesma forma, precisamos pontuar que a gravidez também não é tratamento da endometriose. Algumas mulheres têm a doença controlada durante a gestação mas com riscos obstétricos elevados.

Alguns desses riscos são a placentação anômala, abortos espontâneos, pré-eclâmpsia, retardo de crescimento intra-uterino, placenta prévia, descolamento prematuro de placenta, hemorrágias anteparto, parto prematuro, ruptura uterina, cesariana, recém-nascido de baixo peso, natimorto e hemorragias pós-parto.

A mulher moderna hoje tem mais conhecimento devido a globalização e é muito mais exigente que a mulher do passado, exigindo cada vez mais dos profissionais resultados melhores.

Nós profissionais da saúde não temos obrigação de fim e sim de meio, ou seja, oferecer a melhor assistência à paciente com informações relevantes para que ela possa decidir a melhor forma e de alcançar seus objetivos de acordo com as evidências. 

No início tínhamos a medicina baseada em experiência que foi substituída nos últimos 30 anos pela medicina baseada em evidência que gradativamente vem sendo substituída pela medicina baseada em inteligência (juntar experiência com evidência e individualização).

Em um futuro próximo, a inteligência artificial (computador) vai nos ajudar a analisar todas as variáveis de uma pessoa, selecionando não necessariamente o melhor estudo com as melhores evidências e sim o que melhor atende aquela paciente de forma individualizada.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

A prolactina e sua importância na vida da mulher

A prolactina e sua importância na vida da mulher

(Aumento da PRL -hiperprolactinemia- está diretamente relacionada ao aleitamento em pacientes grávidas / foto: Pexels)

A prolactina tem importante papel não só na mama, influenciando o controle do ciclo menstrual, da fertilidade, do diabetes e da obesidade

A prolactina (abreviada como “PRL”) é um hormônio secretado pelas células lactotróficas da hipófise anterior e tem como principal função estimular a produção de leite pelas glândulas mamárias e promover o desenvolvimento das mamas. 

A PRL foi descoberta pelo endocrinologista canadense Dr Henry Friesen em 1960, e faz parte da família das somatotropinas (hormônio do crescimento).

Está presente na circulação nas formas de um monômero com 199 aminoácidos e peso molecular de 23 kDa (little prolactina) e de um dímero com peso molecular em torno de 45 kDa (big  prolactina) que podem coexistir no mesmo indivíduo. 

A macroprolactina é uma forma de alto peso molecular com 150 – 170 kDa (big big prolactina), que geralmente corresponde ao complexo antígeno-anticorpo formado pela prolactina de peso molecular 23 kDa e a imunoglobulina IgG. 

Cerca de 80-90% da PRL total presente no sangue dos indivíduos normais e de pacientes com prolactinoma, está na forma monomérica com peso molecular de 23 kDa e apenas 10% do total estão na forma big e big big prolactina.

O aumento da PRL (hiperprolactinemia) está diretamente relacionada ao aleitamento em pacientes grávidas e puérperas, mas seu aumento pode trazer outras repercussões fora deste período.

Quando o soro do paciente apresenta um predomínio da forma big big prolactina, o achado é denominado de macroprolactinemia.

Sua principal função consiste em regular o desenvolvimento e diferenciação da glândula mamária (efeito mamogênico) durante a gestação e estimular a lactação no período pós-parto (efeitos lactogênicos e galactopoéticos). 

A PRL é predominantemente produzida e secretada pelos lactotrófos hipofisários, cujo número aumenta radicalmente ao final da gestação mas pode ter fontes extra-pituitárias de liberação no cérebro, glândula mamária, fibroblastos cutâneos, placenta, decídua, âmnio, útero, entre outros. 

O estriol é o principal estimulante na secreção de PRL, e seus níveis estão muito maiores na gestação, justificando a hiperprolactinemia fisiológica que ocorre neste período onde o efeito lactogênico da PRL é inibido pela progesterona e pelo próprio estrogênio, de modo que este hormônio atua apenas no desenvolvimento mamário. 

Outros hormônios estão envolvidos na secreção de prolactina, sendo os principais o hormônio liberador de tireotrofina (TRH), a serotonina, o peptídeo intestinal vasoativo, a vasopressina, a insulina, glicocorticóides e a ocitocina que é responsável pela ejeção do leite além de manter o útero contraído (através da sucção).

A amamentação noturna é essencial para a promoção da lactogênese!

Por outro lado, a dopamina é o principal inibidor da liberação da PRL junto com a noradrenalina, somatostatina, histamina, óxido nítrico, ácido gama-aminobutírico, mantendo o equilíbrio da secreção desse hormônio. 

Existem evidências, ainda, que a PRL atua no metabolismo da glucose sendo responsável por ações insulinotrópicas, incluindo a sobre regulação da expressão e atividade glucokinase  (enzima que metaboliza a glicose nas células). 

No tecido adiposo a PRL está envolvida em muitos processos  abrangendo a adipogênese, a lipólise e a liberação de adipocinas, como a adiponectina e a leptina. 

A hiperprolactinemia parece influenciar no desenvolvimento de distúrbios como a diabetes mellitus e a obesidade

É importante destacar que a PRL alta pode ser desencadeada por inúmeros fatores, como o estresse, uso de remédios que tenham efeitos sobre a hipófise, como os anticoncepcionais, doenças renais, doenças da parede torácica ou que acometem os sistema nervoso central, tumor na hipófise, gravidez e os antidepressivos tricíclicos (antagonistas da dopamina).

Ao se deparar com o aumento nos níveis de PRL na ausência de sintomas compatíveis com hiperprolactinemia, é preciso suspeitar da presença de macroprolactina. 

Em até 25% dos casos de hiperprolactinemia, a forma circulante principal é a macroprolactina, que se denomina macroprolactinemia

Para descobrir se a hiperprolactinemia se dá às custas de prolactina ou de macroprolactina, é feito um teste específico que mostra os seguintes resultados:

Hiperprolactinemia verdadeira (forma monomérica) – recuperação > 65% da quantidade de prolactina inicial

Resultado inconclusivo – recuperação entre 30 e 65%

Presença de macroprolactina – recuperação < 30% da forma monomérica, isto é, aproximadamente 70% da dosagem de prolactina inicial foi às custas da macroprolactina

Uma das causas patológicas de hiperprolactinemia incluem as doenças hipotálamo-hipofisária como os adenomas.

As causas do adenoma hipofisário ainda são desconhecidas, no entanto alguns estudos mostram que este tipo de tumor pode ocorrer por alterações no DNA das células.

  1.  Adenoma lactotrófico tem como característica a hiperprolactinemia que é o aumento do hormônio prolactina, cujo o principal sintoma é a produção de leite nas mamas de mulheres que não estão em fase de amamentação, além da  diminuição do apetite sexual, infertilidade, alterações menstruais.
  2.  Adenoma somatotrófico caracteriza-se pelo aumento da produção do hormônio do crescimento e pode causar uma condição conhecida como acromegalia, em adultos, ou gigantismo, em crianças.
  3.  Adenoma corticotrófico relaciona-se ao aumento da produção do hormônio cortisol que é responsável por causar a síndrome de Cushing.
  4.  Adenoma gonadotrófico está relacionado com o aumento da produção de hormônios que controlam a ovulação em mulheres, mas não apresenta sintomas específicos.
  5.  Adenoma tireotrófico é um tipo de adenoma hipofisário em que há aumento da produção dos hormônios da tireóide o que pode provocar hipertireoidismo.
  6.  Adenoma não secretor é um tipo de adenoma hipofisário que não interfere na produção de hormônios, não causando aumento de hormônios e geralmente não apresenta sintomas. Porém, se o adenoma continuar crescendo, pode causar pressão sobre a hipófise e resultar em alterações hormonais.

Para detectar os níveis de PRL, o médico especialista observa o histórico da paciente e solicita exames de sangue convencionais, que, por sua vez, medem a dosagem da prolactina no sangue.

Os valores de referência considerados normais são de até 29 ng/mL no sangue.  Valores acima de 100 ng/mL sugerem o quadro de prolactinoma (tumor da hipófise).

Prolactinomas são a causa mais frequente de hiperprolactinemia patológica, causada por um tumor dos lactotróficos. Representa cerca de 60% de todos tumores hipofisários e mais de 75% dos adenomas hipofisários em mulheres. As mulheres têm vinte vezes mais desses tumores que os homens. 

Cerca de 50% das mulheres têm galactorréia(saída de leite do peito) com possibilidade de redução da densidade óssea por redução dos hormônios sexuais (testosterona e estrógeno) com aumento do risco de fraturas ósseas.

Quanto ao tamanho, esses tumores são divididos em microprolactinoma se menor que 10mm e macroprolactinoma se igual ou acima de 10mm.

Níveis séricos de prolactina até 250 ng/mL são compatíveis com macroprolactinomas, e maiores que isso, sugerem macroprolactinomas. 

Apesar das flutuações que podem ocorrer em indivíduos normais, sugere-se que se realize a pesquisa da macroprolactina nos casos de hiperprolactinemia, estabelecendo um valor de corte em torno do dobro do valor normal. 

Uma pessoa com níveis elevados de PRL sérica, não apresenta sintomas típicos de hiperprolactinemia e/ou ressonância magnética com evidências de tumor hipofisário, suspeita-se da ocorrência de macroprolactinemia. 

Vários estudos sugerem que nos pacientes com macroprolactinemia, a investigação por imagem só deveria ser realizada quando fossem encontrados sinais clínicos que justificassem tal investigação. 

A avaliação do custo-benefício na realização da pesquisa de macroprolactina nas amostras com hiperprolactinemia, no momento, está bem demonstrada mais econômico fazer a pesquisa de macroprolactina nos casos de hiperprolactinemia em pacientes sem sinais clínicos, do que submetê-los a investigação por imagem.

Os sintomas da mulher relacionados a PRL podem variar sendo os mais comuns a infertilidade (associação com a síndrome dos ovários policísticos), a diminuição da libido, menor lubrificação vaginal, dor na relacao sexual, abortos espontâneos recorrentes, ciclo menstrual irregular, dor de cabeca e disturbios visuais.

O tratamento da prolactina alta vai depender da sua causa com boa resposta ao tratamento com medicações orais sendo raramente necessário a cirurgia.

A cirurgia é indicada quando o adenoma hipofisário é do tipo não secretor e maior que 1 centímetro com sintoma de perda ou alteração da visão.

Quando o tumor não secretor é menor que 1 centímetro ou sem sintomas, o tratamento é feito com acompanhamento médico regular e realização de ressonância magnética regularmente.

As medicações utilizadas para o tratamento tanto de micro como de macroprolactinoma são os agonistas dopaminérgicos (bromocriptina e cabergolina) que são eficazes na grande maioria dos casos para reduzir tanto os níveis de prolactina como o tamanho do tumor. 

Cirurgia, radioterapia e outras drogas (como temozolomida) devem ser reservadas para casos de tumores resistentes ao tratamento convencional ou agressivos.

Em resumo, o diagnóstico de prolactinoma leva em consideração a exclusão de outras causas de hiperprolactinemia, incluindo a macroprolactinemia. 

Embora os prolactinomas sejam a causa mais frequente de hiperprolactinemia, o tratamento desses tumores raramente necessita de cirurgia.  

O tratamento e acompanhamento geralmente é realizado pelo endocrinologista embora muitas manifestações são percebidas pelo ginecologista que acaba fazendo o diagnóstico.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

Passo a passo para a preservação da fertilidade e seus limites

Passo a passo para a preservação da fertilidade e seus limites

A preservação da fertilidade depende de uma boa avaliação dos fatores prognósticos, como a reserva ovariana, a idade, o fenótipo, o genótipo e a etnia.

No dia a dia da clínica, oriento as pacientes que a fertilidade pode ser comparada a um sinal de trânsito. A partir dos 30 anos temos um sinal verde que significa seguir em frente, ou seja, liberado para engravidar. O sinal amarelo, que significa atenção, reduzir a velocidade, quando comparado à reprodução, está relacionado a uma diminuição da fertilidade após os 35 anos de idade, com chances de precisar de ajuda. Após os 40 anos de idade, temos o sinal vermelho, que significa parar, pois as elevadas taxas de aborto, associadas à baixa taxa de fertilidade, sinalizam a possibilidade de insucesso ou a necessidade de ajuda (reprodução assistida).

Neste caso, a idade está sendo a nossa referência, pois ela está relacionada a uma menor quantidade e qualidade do óvulo. Para avaliar a quantidade de óvulos por idade, utilizamos de forma objetiva o hormônio anti-mulleriano (AMH), a contagem de folículos antrais (CFA) e o FSH. O hormônio anti-mulleriano (AMH) pode ser dosado em qualquer época do ciclo, apesar de apresentar uma variação intra-ciclo de até 20%, com valores absolutos considerados baixos abaixo de 1, e altos acima de 4. Esta análise deve ser associada a uma análise da CFA no início do ciclo através do US, que não é invasiva, com resultado imediato que reflete o ver para crer, sendo considerados baixos valores abaixo de 5, e altos acima de 20 folículos.

Juntos eles conseguem nos dar uma boa avaliação de como será a resposta ao estímulo e qual será o número de óvulos coletados. O potencial reprodutivo também é influenciado por numerosas variáveis extrínsecas ao ovário e ao útero. Uma delas é o câncer, que cada vez acomete pessoas mais jovens. As adolescentes portadoras de cânceres, em particular, encontram-se em um período muito vulnerável de suas vidas.

A fertilidade e a sexualidade, bem como a qualidade de vida, são importantes aspectos a serem valorizados em sobreviventes de neoplasias malignas. Um dos mais importantes e, mesmo assim, um dos maiores problemas que começam a ser resolvidos na medicina reprodutiva, é o da preservação ovariana. As opções que temos hoje para a preservação da fertilidade são: o congelamento do embrião, do oócito maduro (M2 – mais sensível), do oócito imaturo (M1 – menos sensível) e do tecido ovariano.

Criobiologia é o estudo dos efeitos de temperaturas ultra-baixas em sistemas biológicos, tais como células ou organismos, que apresentou um grande avanço nos últimos anos com a vitrificação de óvulos e embriões. A técnica de vitrificação foi criada pelo doutor Masashige Kwayama, da Clínica Kato, em Tóquio, no Japão, e chama atenção pela rapidez com que atinge baixa temperatura (-196º), produzindo um estado vítreo no embrião ou óvulo, e impedindo a formação de cristais de gelo e os consequentes danos celulares.

A velocidade da diminuição de temperatura no congelamento por vitrificação é de 23ºC por minuto, ou seja, 70 vezes mais rápido. Os óvulos congelados ficam então armazenados em um cilindro de nitrogênio líquido mantido a -196º. Para congelar o embrião, é preciso ter um parceiro e utilizar-se de uma técnica de reprodução assistida com taxa de sucesso no descongelamento superior a 80%. Para congelar oócitos, é preciso que eles sejam maduros, mas as taxas de sobrevida após descongelamento não são boas, com índice de 60%. Embora seja possível fazer a maturação in vitro de oócitos imaturos, este ainda é um procedimento experimental, apesar de termos nascimentos neste formato já registrados.

Os avanços da preservação da fertilidade em pacientes com câncer impulsionou a perspectiva de uma preservação da fertilidade social. Neste caso, a mulher pode postergar a maternidade e realizar todos os seus projetos. Na rede social, percebemos a #trintou, congelou. O procedimento para congelar óvulos não é complicado e sim delicado, sem cobertura por planos de saúde, com custos ainda elevados, dificultando a sua popularização.

Qual é o procedimento para congelar óvulos?

Inicialmente, é importante deixar o ovário parado, geralmente com uso de um anticoncepcional. Após a interrupção do anticoncepcional, a menstruação chega e, então, inicia-se o uso de uma medicação para estimular os ovários a produzir folículos que irão crescer até um tamanho pré-ovulatório. Neste momento, realiza-se o uso de uma medicação para amadurecer o óvulo. 36 horas depois, a paciente é submetida a uma punção guiada por US, com sedação, para retirada dos óvulos que serão congelados em laboratório (BCTG- banco de célula, tecido e gametas).

Qual é a quantidade de óvulos para fertilização que garante um embrião no futuro? 

Valoreli et al no Cur Opin, em 2018, mostrou que 16 oócitos maduros em uma paciente com 35 anos tem 100% de chance de gerar 1 blastocisto euplóide. Paciente entre 35 e 37 anos precisaria de 25 oócitos e entre 38 e 40 precisaria de 50 oócitos maduros.

Para congelar o tecido ovariano e preservar a fertilidade, é preciso uma cirurgia e utilizar o congelamento lento, também em pacientes jovens com menos de 37 anos, para, no futuro, após descongelar, reimplantar de forma ortotópica (mesmo local original). O desafio é a viabilização deste implante sem perda da reserva.

A preservação do tecido ovariano teve início com o isolamento de folículos em tecido criopreservado em 1995 e com a realização de eventos, em 1997, na Bélgica. Algumas publicações, em 1998, pelo professor Jacques Donnez na Human Reproduction Update, já com banco de ovário funcionando na UCL- Clinique Saint Luc, Bruxelas.

O nascimento do primeiro bebê, em 2004, a partir desta técnica, desencadeou todo um processo, até que em 2019 o comitê da ASRM definiu que esta tecnologia não seria mais experimental, assim como a ESHRE, na Europa. Para viabilizar este procedimento, já disponível no Brasil em algumas capitais, como Belo Horizonte, se faz necessário seguir protocolos já bem estabelecidos, como uma boa avaliação psicológica, individualizar riscos e benefícios para a mulher, afastar a possibilidade de transmissão de problemas genéticos e de reimplante de células cancerosas.

Indicações na mulher pré-púbere são o risco de falência prematura e ausência de ativação genética ovariana. Indicação em casos de câncer pélvico ou extra-pélvico, é devido à gonadotoxidade que depende da idade da paciente, da reserva folicular, da dose e do tipo do quimioterápico, sendo piores os agentes alquilantes. A radioterapia com irradiação total, abdominal e pélvica, com dose acima de 24 gy, determina risco de dano moderado a alto, principalmente se associado à quimioterapia. Nos grandes centros mundiais, as maiores indicações têm sido os linfomas, a leucemia e o câncer de mama.

Existem três opções em relação à preservação do tecido ovariano/ovário nos dias atuais. Uma opção é o retransplante vascular de todo o ovário; outra é a de transplante avascular de fragmentos congelados, e a terceira é o isolamento de folículos deste tecido que seriam reimplantados em um ovário artificial, no caso de existir risco de transplantar células de câncer na paciente.

Inaugurado recentemente na Espanha o IVI Regenera Ovário, centro de excelência em rejuvenescimento ovárico, traz duas novas opções: a injeção de células tronco na artéria ovariana e a ativação oocitária com plasma enriquecido com fatores de crescimento (ASCOT-1 e OFFa).

A preservação da fertilidade é hoje uma realidade que, se bem planejada, deve fazer parte do planejamento de todas as mulheres que desejam proteger a sua fertilidade. O sucesso depende de vários fatores prognósticos, como a idade, a reserva ovariana, o tipo de tratamento para câncer, a técnica de reimplante, além de uma correta seleção dos casos e com o aval de uma equipe multidisciplinar, composta por oncologistas, ginecologistas, biologistas, psicologistas, entre outros.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Implantes Hormonais

Implantes Hormonais

UMA VISÃO DE COMO MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA

Há décadas, desde os anos sessenta, a utilização de hormônios através da via subcutânea (injetados debaixo da pele sob anestesia local como procedimento em consultório  adequado e  por Médico especializado, preparado para tal ),quando não existe contraindicação para sua utilização, visando  substituir outras vias de medicação com o objetivo de regular a liberação de hormônios, especialmente no sexo feminino, também utilizada no sexo masculino com indicações específicas,  a implantação subcutânea vem sendo utilizada cada vez mais frequente com êxitos e demanda aumentada na procura de melhorar a “performance” de melhor viver com mais qualidade de vida.

Assim sendo, com várias indicações, entre tantas, é utilizada como tratamento em determinadas portadoras de Endometriose, Miomatose, inibem a menstruação, impedem a concepção, diminuem drasticamente os efeitos da TPM e como Reposição Hormonal pós Menopausa (TRH) possui muitos benefícios com alivio de sintomas vasomotores e sudorese, prevenção de doenças crônicas, manutenção da massa óssea, prevenção de fraturas, melhora de sintomas urogenitais sobre a bexiga, incontinência urinária em certas situações, infecção recorrente do trato urinário e atrofia vaginal, alem de  incrementar o desempenho sexual ao aumentar a libido, proporcionar efeitos estéticos positivos como diminuição da gordura corporal, celulite e aumento de massa magra, motivo pelo qual denominada comumente  como “Chip da Beleza”  e  em especial para atletas que necessitam de energia suficiente para realização das atividades esportivas. Devido a esses efeitos, é desaconselhável seu uso para atletas em competições oficiais por ser considerado doping, devido à extra energia fornecida.

Como diz o ditado: “Beleza pode ser definida como a perfeição agradável  à vista, que cativa o espírito, uma mulher formosa”.

As mídias sociais alavancaram ainda mais a busca das mulheres pelo padrão de beleza ideal dos anos 2000, onde estas sonhavam com um corpo magro e longilíneo.

Atualmente, desejam baixo percentual de gordura e ganho de massa magra.

Após os 40 anos, as mulheres sofrem alterações hormonais, as quais desencadeiam inúmeros processos em seus organismos, como a redução da massa magra, perda de energia e diminuição da libido.

Diante dessas alterações, as mulheres buscam cada vez mais soluções para reduzir esses efeitos, sendo os implantes hormonais uma das alternativas adotadas por elas.

Para que possa realizar a colocação de “implantes hormonais“, especializados e a cada caso em particular, com adequadas indicações, o INSTITUTO SAFE se preparou e se adequou para a aplicação da implantação.