Saúde dos filhos das Técnicas de Reprodução Assistida (ART)

Artigo recente da revista Nature correlacionou o 
nascimento por ART e doenças da velhice.

Um tema comum que preocupa as “tentantes” no início do tratamento de fertilização in vitro (FIV) é se esse tratamento pode aumentar as chances de malformação ou anormalidade do bebê. 

Há uma preocupação bem antiga a respeito desse tema muito estudado para garantir a segurança destas técnicas.

Caso isto ocorresse estaríamos diante de um problema de saúde pública, pois nos últimos 40 anos mais de 8 milhões de crianças nasceram de um tratamento de reprodução assistida.

 A malformação congênita em bebês nascidos através de FIV é ligeiramente maior do que bebês nascidos através de gravidez espontânea mas sem significado estatístico após ajustes dos dados para fatores que poderiam influenciar o resultado como idade, gravidez única/múltipla e condição de fertilidade/infertilidade.

Em outras palavras, o tratamento de FIV não é o real responsável pelo aumento dos riscos para malformação, mas sim, a condição de infertilidade.

Outro ponto é que as mulheres que procuram a fertilização in vitro, geralmente são mais velhas sendo comprovado cientificamente que a progressão da idade diminui a fertilidade na mulher e aumenta as chances de ela ter um filho com alterações genéticas.

Na gravidez natural, os espermatozóides depositados na vagina “caminham” pelo útero e tubas, até encontrarem o óvulo (oócito). 

Nessa “caminhada”, muitos são eliminados pelo organismo feminino, acreditando-se que apenas os mais “fortes” consigam chegar ao óvulo através de uma espécie de seleção “natural” dos espermatozóides, semelhante ao que aconteceria com uma FIV clássica.

Quando se realiza a injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI), a seleção é feita pelo olho do observador, levando em conta a motilidade e a morfologia do espermatozóide que pode não ser tão bom quanto a “seleção natural” mencionada.

Durante o desenvolvimento embrionário, podem ocorrer erros na divisão das células, levando à alteração cromossômica que podem causar problemas no desenvolvimento do bebê, fazendo com que a gestação evolua para aborto espontâneo, ou mesmo o bebê se desenvolva com alguma síndrome, como a trissomia do cromossomo 21, conhecida como Síndrome de Down, por exemplo.

Além da possibilidade de alterações cromossômicas, cada embrião carrega as características genéticas dos seus progenitores, ou seja, se um dos familiares for portador de alguma alteração genética grave ou algum tipo de mutação, o embrião pode apresentar a mesma condição ou mesmo uma doença genética grave como a anemia falciforme e a fibrose cística.

O estudo genético embrionário tem se mostrado uma técnica segura com baixas taxas de erro no diagnóstico se realizado em laboratórios com profissionais experientes.

O teste genético pré-implantacional (PGT) permite a identificação de possíveis doenças genéticas no embrião antes da sua transferência para a cavidade do útero.

Em 2017, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma normativa ética (Resolução nº 2.168/2017) que autoriza a realização da biópsia embrionária em cenários pré-estabelecidos. 

Os dois principais tipos de biópsia embrionária são o PGT-A e o PGT-M.

O “A” da sigla significa aneuploidia e nesse tipo de avaliação, a técnica tem o objetivo de rastrear mais de 100 doenças genéticas, principalmente aquelas relacionadas à alteração do número de cromossomos (aneuploidies –  Síndrome de Down, Patau, Edwards, entre outras).

O “M” da sigla representa doenças monogênicas e nesse tipo de avaliação, a técnica tem o objetivo de rastrear doenças hereditárias específicas, ou seja, doenças que acometem vários membros da mesma família e que apresentam alto risco de transmissão para seus descendentes (Anemia Falciforme, Fibrose Cística, neuropatias, entre outras).

A análise genética embrionária é realizada nos ciclos de FIV, antes da transferência dos embriões para o útero com uma agulha bem fina ou laser após cinco a seis dias da fertilização, quando os embriões estão no estágio de blastocisto.

As células biopsiadas são retiradas da parte embrionária que formará a placenta e outros anexos da gestação e não da região que irá formar o bebê.

As células biopsiadas são congeladas, identificadas e enviadas para a análise pelo geneticista enquanto os embriões são congelados e ficam armazenados em botijões com nitrogênio líquido em ambiente seguro e controlado.

Muito se discute sobre a possibilidade de o PGT estar associado a algum dano no embrião e esse dano dificultaria  a implantação embrionária. Essa seria uma das justificativas do porquê embriões saudáveis não se implantam no útero. 

Outro ponto de discussão é que a taxa de nascimento de bebês não aumenta com o procedimento e, por isso, o procedimento não deve ser realizado rotineiramente devido aos elevados custos.

Um artigo publicado recentemente em 15 de dezembro de 2022 pela revista Nature cujo título em português é o “Comprimento dos telômeros de leucócitos em crianças nascidas após a transferência de embrião no estágio de blastocisto” mostrou que crianças nascidas de ART apresentavam um maior risco de apresentar doenças da velhice (doença cardiovascular e câncer além de uma menor expectativa de vida ) devido a diminuição do tamanho da telomerase em especial nas crianças submetidas a biópsia de blastocisto pré implantacional.

Crianças nascidas de ART têm maior risco de apresentar baixo peso ao nascer, e parto prematuro que são risco para doenças cardíacas e metabólicas.

Os estudos atuais com pessoas nascidas de reprodução tem uma limitação de terem participantes com no máximo 32 anos de idade.

Isto acendeu um alerta trazendo à tona velhas perguntas que precisarão de novas respostas, além de um posicionamento das sociedades.

Alguns pesquisadores chineses realizaram a biópsia embrionária não invasiva utilizando  o material genético obtido do próprio meio de cultivo onde o embrião é colocado.

 Trata-se de um procedimento não invasivo e promissor porque não causaria danos ao embrião, mas que segundo as duas maiores sociedades internacionais de reprodução humana (ASRM e ESHRE) ainda é experimental e não deve ser utilizado de rotina.

A FIV é uma técnica muito segura com um controle rigoroso dos laboratórios e ciclos pela Anvisa, mas ainda existem várias especulações sobre a segurança em relação a alguns assuntos!

Embora várias pesquisas tenham sido feitas, ainda não há uma resposta definitiva de que a ART não colabora para o aumento da incidência de malformações. 

Precisamos de mais pesquisas para entender o relacionamento entre esses problemas e o meio usado para a cultura do embrião, o momento da transferência do embrião, os efeitos da estimulação do ovário, o uso do ICSI, o congelamento dos gametas e embriões e o diagnóstico pré implantação.

Seja lá qual for a resposta, sempre haverá algum risco, mesmo que pequeno, da concepção de um bebê que possa ter alguma malformação. 

Se não existisse a reprodução assistida muitos destes casais provavelmente não teriam a oportunidade de ter filhos!

O casal após conversar com o fertileuta precisa se posicionar e responder se estão dispostos a aceitar esse risco, em troca da imensa felicidade que é ter um bebê.

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Sobre mim

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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