Osteoporose, doença silenciosa e impactante.

Osteoporose, doença silenciosa e impactante.

Osteoporose, doença silenciosa e impactante.

A osteoporose é uma doença silenciosa que raramente apresenta sintomas antes que aconteça sua consequência mais grave, isto é, uma fratura óssea. 

No Brasil, ocorrem aproximadamente 2,4 milhões de fraturas devido à osteoporose, com cerca de 200 mil mortes todos os anos em decorrência delas.

A fratura mais perigosa é a do colo do fêmur. Um quarto dos pacientes que sofrem esta fratura morrem dentro de seis meses e os que sobrevivem apresentam uma redução importante da qualidade de vida e independência.

O ideal é que sejam feitos exames preventivos, para que a osteoporose seja diagnosticada a tempo de se evitar as fraturas. 

Mas, mesmo após uma fratura osteoporótica, o paciente não é encaminhado para tratamento o que leva a um aumento do risco de uma nova fratura em mulheres de até 27%.

Quem cuida da osteoporose?

A osteoporose contempla várias especialidades como a endocrinologia, reumatologia, ortopedia, ginecologia, geriatria, entre outras por ser uma doença metabólica sistêmica que afeta os ossos, provocando a diminuição progressiva da densidade óssea com o desenvolvimento de ossos ocos, finos e de extrema sensibilidade, tornando-os mais sujeitos a fraturas.

Os nossos ossos recebem forte influência do estrogênio, um hormônio feminino, mas que também está presente nos homens em menor quantidade. 

Este hormônio ajuda a manter o equilíbrio entre a perda e o ganho de massa óssea ao retardar a reabsorção do osso, além de ser responsável pela fixação do cálcio e o fortalecimento do esqueleto.

A baixa de estrogênio irá contribuir para a perda de massa óssea mais acelerada, principalmente nos primeiros anos da pós-menopausa. 

Dez milhões de brasileiros sofrem de osteoporose, sendo que, 1 a cada 3 mulheres com mais de 50 anos apresentam a doença.

Em homens, os baixos níveis de testosterona (hipogonadismo) também podem favorecer a osteoporose, uma vez que este hormônio entra na formação do tecido ósseo no organismo masculino.

De acordo com estatísticas, a osteoporose afeta um homem para cada quatro mulheres.

O osso, além de promover sustentação ao nosso organismo, é a fonte de cálcio, necessária para a execução de diversas funções musculares como os batimentos cardíacos, funcionamento intestinal e outros. 

O osso é uma estrutura viva que está sendo sempre renovada. Essa remodelação acontece diariamente em todo o esqueleto, transformando osso velho em osso novo.

Quando o metabolismo do osso está em equilíbrio, ele retira e repõe o cálcio dos ossos sem comprometer essa estrutura. Por isso, é importante que a ingestão de cálcio seja adequada.

A ingestão insuficiente ou a má absorção do nutriente pode ser uma das causas da osteoporose. Existem hoje aplicativos que nos ajudam a avaliar a nossa ingestão diária de nutrientes.

No caso do envelhecimento, é preciso entender que os ossos crescem somente até os 20 anos e sua densidade aumenta até os 35 anos, começando a perder-se massa óssea progressivamente a partir disso.

Isso quer dizer que, até os 35 anos, há um equilíbrio entre processos de reabsorção e criação dos ossos. A partir dessa idade, a perda óssea aumenta gradativamente, como parte do processo natural de envelhecimento.

Caso o indivíduo não tenha criado um “estoque” de densidade óssea suficiente para suprir esse aumento gradativo da reabsorção, os ossos vão ficando mais frágeis e quebradiços, podendo levar à osteoporose em idades cada vez mais precoces.

Quando deve ser feito a prevenção?

A prevenção da osteoporose deve se iniciar na infância, através de uma alimentação saudável, com boa quantidade de alimentos ricos em cálcio.

Além disto, deve-se proporcionar para a criança e o adolescente a possibilidade de  brincadeiras e atividades ao ar livre. Isto vai estimular o exercício físico, que fortalece o esqueleto em crescimento, além de favorecer a exposição ao sol para que ocorra a produção Vitamina D (fundamental para nossa saúde, em especial para o fortalecimento ósseo) na pele.

É importante salientar que a atividade física em qualquer fase da vida (exercício de impacto nos mais jovens) têm um papel na prevenção de osteoporose e fraturas.

A osteoporose é a resultante de uma menor formação de osso pelos osteoblastos e maior reabsorção óssea pelos osteoblastos podendo ser primária ou secundária.

Osteoporose primária é a forma mais comum de osteoporose e pode ser subdividida em dois tipos principais:

  • Tipo 1 ou osteoporose pós-menopausa: atinge o osso trabecular (parte porosa), e causa fraturas nas vértebras e rádio distal – geralmente ocorre na mulher após a menopausa.
  • Tipo 2 ou osteoporose senil: seu desenvolvimento é facilitado pelo envelhecimento e falta de cálcio. Causa a perda proporcional de ossos cortical (parte dura e compacta) e trabecular.

Osteoporose secundária costuma ser causada por inflamações com alterações endócrinas, artrite reumatóide e hipertireoidismo, além do consumo em excesso de álcool e ausência de atividade física como resultado do consumo inadequado de vitaminas e uso de corticóides.

Alguns fatores como vimos aumentam as chances do desenvolvimento da osteoporose como o consumo insuficiente de cálcio e vitamina D, o histórico familiar da doença, o excesso de peso, a pouca exposição ao sol e problemas hormonais.

Quais são os sintomas?

Os sintomas de osteoporose que podem surgir com o avanço da doença são a dor ou sensibilidade óssea, a diminuição de estatura com o passar do tempo, a dor na região lombar devido a fraturas dos ossos da coluna vertebral, a dor no pescoço devido a fraturas dos ossos da coluna cervical e postura encurvada. 

Essas fraturas podem acontecer sem nenhum trauma importante e acometem principalmente o quadril e a coluna , podendo incapacitar o indivíduo e gerar um enorme impacto na qualidade de vida.

Na verdade não sabemos se a pessoa quebra porque cai ou cai porque quebra, ou ambos juntos!

Por não apresentar sintomas em seu estado precoce, não é possível fazer um diagnóstico precoce da osteoporose de maneira clínica. 

Dessa forma, só é possível identificar a doença por meio da densitometria óssea e radiografias. 

O exame de Densitometria Óssea está indicado para todas as mulheres a partir de 65 anos e para todos homens com 70 anos ou mais. 

Além disto, todas mulheres menopausadas e todos homens com mais de 50 anos, que possuam um dos fatores de risco descritos abaixo, devem realizar o exame para confirmar a presença da osteoporose ou osteopenia.

Possuem maior risco para desenvolver osteoporose as mulheres, indivíduos de raça branca, pessoas miúdas (magrinhas e pequenas), orientais, mulheres com menopausa precoce sem reposição hormonal, os tabagistas e etilistas severos e pessoas com história de fraturas na família e  doenças graves que utilizam corticóides por longo tempo.

Como é realizado o tratamento?

O tratamento da osteoporose envolve uso de medicamentos que diminuem ou  interrompem a perda de massa óssea. Além disso, são empregadas medidas para diminuir o risco de fraturas, como fortalecimento muscular, treinamento de equilíbrio e adaptações para reduzir a ocorrência de quedas.

Apesar da cura difícil, quase impossível, pode-se fazer da primeira fratura a última ou então evitar o agravamento, embora dificilmente irá eliminar totalmente a doença.

Os objetivos do tratamento da osteoporose são controlar a dor, retardar ou interromper a perda óssea e prevenir fraturas. Portanto, a escolha do tratamento irá depender da causa da osteoporose e de outras doenças associadas.

Existem várias medicações indicadas para o tratamento da osteoporose, que são individualizadas para cada caso, a depender da gravidade ou das causas secundárias. 

Alguns medicamentos comuns usados para esse fim são o Raloxifeno, os Bisfosfonatos, o Ranelato de estrôncio, a Teriparatida, o Denosumab e a Calcitonina. 

O tratamento deve ser sempre realizado com supervisão médica.

A terapia de reposição hormonal é eficaz na prevenção da osteoporose e de fraturas vertebrais e não-vertebrais. No entanto, ainda não há evidência suficiente para recomendar o tratamento na redução do risco de fraturas no tratamento da osteoporose já estabelecida.  

A ingestão adequada de cálcio e sua suplementação são indicados para o tratamento e prevenção da osteoporose.

A vitamina D é um nutriente importante na manutenção da saúde óssea, uma vez que suas principais funções são a regulação da absorção intestinal de cálcio e a estimulação da reabsorção óssea.  

Não se recomenda o tratamento com vitamina D isolada ou em conjunto com cálcio, porém o uso complementar desses nutrientes é fundamental para uma formação óssea adequada.

Conheça as cirurgias

Cirurgias como vertebroplastia são procedimentos minimamente invasivos para tratar fraturas na coluna vertebral, melhorando a dor e a capacidade funcional dos pacientes em cerca de 90 a 95%. Ele é feito injetando cimento acrílico (polimetilmetacrilato, ou PMMA) no interior da vértebra 

A Cifoplastia é um procedimento ambulatorial usado para tratar fraturas por compressão dolorosa na coluna vertebral. Ele utiliza uma espécie de balão, que é injetado na coluna e inflado, posicionando as vértebras corretamente antes da colocação do cimento ósseo. 

Procure um especialista, que poderá conduzir seu tratamento de maneira adequada e tranquila.

Leia também: Sensibilização central, a chave da dor crônica

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

Inseminação caseira, o barato que pode sair caro

Inseminação caseira, o barato que pode sair caro

Inseminação caseira, o barato que pode sair caro

A inseminação caseira, colocação de sêmem intravaginal ou intra útero sem ajuda especializada pode  trazer riscos à saúde além de problemas legais.

A inseminação é um ato médico e por isso deve ser indicada e realizada por médicos.

A infertilidade (dificuldade para engravidar após um ano de coito desprotegido) é um problema que atinge muitos casais e por isso, muitas pessoas buscam ajuda para resolver esse problema e conseguir ter o tão sonhado filho.

Apesar dos grandes avanços, a Reprodução Assistida ainda não é acessível apesar de existir centenas de centros especializados no Brasil regulamentados e fiscalizados pela Anvisa (RDC).

Muitas pessoas confundem inseminação artificial (IA) com fertilização “in vitro” (FIV).

A principal diferença entre fertilização in vitro e inseminação artificial é o local onde ocorre a fertilização, ou seja, enquanto na IA a fertilização é intrauterina, ou seja, o sêmen será introduzido no útero da mulher por meio de um cateter no dia de ovulação, a FIV é realizada em laboratório controlado e só depois o embrião é transferido para o corpo da mãe. 

Quanto custa fazer inseminação artificial?

Em média, o valor para o processo de Inseminação Artificial, sem os medicamentos, fica entre R$ 2.500 e R$ 3.500 podendo chegar a 5000,00 com a medicação.

Os custos para aquisição de espermas selecionados e testados com segurança e informações individualizadas em empresas especializadas pode chegar a 3000,00 fora as despesas com o transporte adequado.

Casais homoafetivos formados por mulheres que querem ter filhos, mas não podem pagar pela inseminação artificial, são os que mais buscam o procedimento caseiro no Brasil e no Mundo.

A inseminação caseira é uma forma de engravidar sem sexo ou ajuda de médicos em casa e não em uma clínica especializada.

O casal busca um doador de sêmen, que faz a coleta do esperma que é colocado em uma seringa sem nenhum preparo e injetado na vagina (ou no colo do útero) pela mulher que deseja engravidar.

Desde 2012 através da portaria 3.149 o SUS oferece o programa de reprodução assistida por meio de IA ou por FIV.

Casais sem filhos que não conseguem engravidar por algum motivo podem fazer a fertilização in vitro pelo SUS, mas é importante salientar que conseguir fazer o tratamento pelo SUS costuma ser bem complicado e demorado.

Em média, são quatro anos de fila de espera e ainda precisam arcar com os custos da medicação em alguns casos que pode passar de 5000,00.

Infelizmente, de todas as clínicas privadas no Brasil, apenas 15 parecem atender pelo Sistema Único de Saúde estando localizadas em poucas cidades como Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Ribeirão Preto e Santo André.

O SUS cobre fertilização in vitro?

Para conseguir a FIV pelo SUS é necessário ter recebido o diagnóstico de infertilidade depois de estar tentando engravidar pelo método natural durante dois anos.

As principais indicações de IA são a impossibilidade de se realizar o coito (relação sexual), homens com problemas leves no espermas, mulheres com problemas cervicais (colo do útero) e mulheres jovens com infertilidade sem causa aparente.

A inseminação pode ser realizada em conjunto com um estímulo ovariano (indutores da ovulação) de baixo custo e riscos, desde que a paciente apresente trompas pérvias e seja monitorizada adequadamente.

Alguns casais que buscam formas de engravidar ainda têm dúvidas sobre a real importância da fertilização e desconhecem os procedimentos disponíveis de reprodução humana assistida executados por clínicas sérias e seguras. 

Percebe-se um crescimento  impulsionado pela crise econômica e pelo modismo das  redes sociais com comunidades no Facebook , grupos no WhatsApp e até contas no TikTok e no Instagram criadas tanto por doadores de sêmen quanto por mulheres que tiveram seus filhos por inseminação caseira. 

Infelizmente as redes sociais e a globalização podem acabar banalizando certos procedimentos médicos como neste caso da IA, onde tutoriais, vídeos e até ajuda on-line tentam ensinar mulheres sem se preocupar com as potenciais repercussões negativas.

Quais são os riscos da auto-fertilização

Os riscos que envolvem a prática da auto-fertilização são ignorados pelos meios de comunicação, ameaçando gravemente a saúde da mulher e do feto. 

Muitos doadores ilegais de esperma, aproveitam do momento frágil, principalmente quando são casais homoafetivos de mulheres, para ter relação sexual com uma das parceiras. 

Fora o claro perigo de contaminação de doenças (IST – antes conhecidas como DSTs), ainda há a violação do corpo feminino.

Outro equívoco são as vendas dos kits, que podem ser compostos por esperma doado ilegalmente, seringas, potes de coleta e outros. 

Além da incerteza da proveniência dos materiais contidos nesses conjuntos, sem esterilização ou prévia análise, ainda existe uma grande possibilidade do material espermático ser inválido. 

Os espermatozóides têm tempo de sobrevivência e manutenção de sua capacidade de fertilização, sendo ideal trabalhar com ele a fresco.

Sem considerar a má qualidade do esperma, ainda seria necessário a preparação do corpo feminino, através do acompanhamento com médico especialista. 

Mas o maior problema desses procedimentos caseiros não é a ineficiência e sim o alto risco à saúde da mulher. 

Sem um profissional especializado para realizar o manejo da inseminação artificial (IA ou IIU), pode ocorrer a perfuração ou ferimento no canal vaginal. 

Além da contaminação por infecção, devido aos instrumentos e ambiente insalubres, pode se agravar a proliferação de microorganismos (fungos, bactérias, vírus e amebas), quando a mulher apresenta algum desequilíbrio ou variação no PH.

O alto risco da mulher  adquirir Infecções Sexualmente Transmissíveis (antes conhecidas como DSTs) que podem ser transmitidas para o bebê  e causar riscos irreversíveis ao feto. 

A auto-inseminação pode sair muito cara, afetando a mulher com doenças e infecções graves como:

  • Sífilis;
  • HIV 1; HIV 2;
  • Hepatite B; Hepatite C;
  • HTLV I e II;
  • Chlamydia trachomatis; Ureaplasma urealyticum; Mycoplasma hominis; Neisseria gonorrhoeae
  • Bactérias aeróbias

Quais são os testes para a FIV e IA?

Para a seleção de doadores em clínicas especializadas as pacientes devem ser realizados testes laboratoriais para

  1. Sífilis;
  2. Hepatite B (HBsAg e anti-HBc); Hepatite C (anti-HCV);
  3. HIV 1 e HIV 2;
  4. HTLV I e II,
  5. e Zica virus e sorologias  para Clamídia e Gonococo.

O tema parece ter chegado à Justiça nos últimos meses e tribunais em várias partes do Brasil divulgaram decisões sobre o registro de bebês nascidos por meio da inseminação feita em casa, sem relação sexual. 

A inseminação caseira não é amparada por nenhuma legislação no Brasil, mas não há, portanto, regra que proíba a prática. 

Os acordos são feitos em conversas informais ou, em alguns casos, pela assinatura de termos de compromisso em papel, sem validade jurídica.

Já a cobrança pelo material genético é vetada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). 

Homens que fazem a doação afirmam só pedir auxílio com custos do deslocamento ou exames solicitados pelos casais antes da inseminação, como testes de HIV e outras DSTs.

Justamente por não estar prevista em nenhuma norma, a inseminação caseira tem sido debatida na Justiça. 

Quando o casal que fez a inseminação caseira são de duas mulheres, cria-se um imbróglio no cartório.

Uma regra do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determina a apresentação de laudo da clínica de fertilização que não existe nos casos de inseminação caseira obrigando a entrada com ação para conseguir a dupla maternidade, que acaba gerando custos.

Além do risco para saúde da mulher, há possibilidade de discordâncias e litígios entre os envolvidos. A criança poderá requerer a paternidade do doador se a inseminação for caseira ou vice-versa.

Em procedimentos em clínicas, é resguardado o anonimato do doador do sêmen usado na fertilização.

Pela falta de controle, há ainda discussões sobre a possibilidade de que filhos do mesmo doador se relacionem no futuro, sem saber que são irmãos por parte de pai.

Por esta razão o número de doações por doador depende do número de habitantes de cada região.

Costumam dizer que sonhar não tem preço quando na verdade alguns sonhos podem custar bem caro e levar pessoas a tomar medidas desesperadas.

A solução deve partir do poder público com medidas capazes de aumentar o acesso aos tratamentos de reprodução assistida.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe.

Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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Medicina assexuada e gaslighting médico

Medicina assexuada e gaslighting médico

Medicina assexuada e gaslighting médico

A dor do descrédito parece estar gerando um movimento inédito no Brasil,  trazendo um novo vocabulário que chega agora na medicina, o gaslighting médico.

O gaslighting seria um dano, abuso “leve” principalmente contra a mulher em uma medicina que para muitos continua sendo machista. Será?

Acredito que precisamos tentar conceituar bem para podermos entender e concordar ou não com este novo vocabulário e com a forma que vem sendo introduzido na mídia sem nenhuma “ciência” envolvida até o momento.

O abuso é uma relação onde existe violência/abuso verbal, emocional, psicológico, físico, sexual, financeiro e/ou tecnológico. Normalmente, como há diferença de poder é comum perder o limiar do que é aceitável ou não em função das demandas de um outro que a tudo comanda.

Já o descrédito consiste em diminuir o valor de alguém, desmerecendo.

Dano significa prejuízo, estrago que neste caso vem atrelado a moral configurando-se assim o dano moral que é quando uma pessoa se acha afetada em seu ânimo psíquico, moral e intelectual, seja por ofensa à sua honra, na sua privacidade, intimidade, imagem, nome ou em seu próprio corpo físico.

O termo gaslighting tem sido usado recentemente como uma violência psicológica sutil que causa instabilidade emocional, apesar de não ter esta exata conotação quando olhamos a forma como vinha sendo utilizado desde 1960 que descreve a manipulação do sentido de realidade de alguém, uma forma de abuso psicológico na qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

O termo deve a sua origem à peça teatral Gas Light e às suas adaptações para o cinema, quando então a palavra se popularizou.

A peça teatral Gas Light, de 1938, e suas adaptações para o cinema, lançadas em 1940 e 1944, motivaram a origem do termo por causa da manipulação psicológica sistemática utilizada pelo personagem principal contra uma vítima. 

No filme, o marido da protagonista constantemente aumenta e diminui as luzes dos lampiões a gás que iluminam a casa, enquanto vai escondido ao sótão buscar objetos de valor. Quando a mulher questiona a alternância da luz, o marido insiste que não houve mudança nenhuma e afirma que ela está imaginando coisas. O marido invalida as percepções da esposa, e a faz duvidar da própria sanidade.

Esta manipulação psicológica em relacionamentos pessoais e profissionais tem sido trazido para a relação médico-paciente, onde o abuso representado pelo “gaslighting” ocorre quando as pacientes são questionadas de maneira exaustiva pelo médico, ou quando algum sintoma que apresente acaba sendo subvalorizado/ignorado durante a anamnese, consulta ou tratamento.

Percebo muito mais uma omissão decorrente do despreparo da formação do médico ou da dificuldade em achar MÉDICOS que queiram ou consigam realmente honrar o juramento realizado na formatura de medicina.

Esta omissão dependendo do caso pode ser muito bem enquadrada em erro médio se apresentar um contexto de negligência, imprudência ou imperícia.

Algumas pesquisas mostram que erros de diagnóstico médico podem acontecer em uma de cada sete consultas, sendo a maioria dessas falhas causada por falta de conhecimento do profissional. 

Embora não seja uma justificativa, estamos diante de um ciclo vicioso, pois os médico também têm sido vítimas do gaslighting, uma vez que ao receberem o diagnóstico de burnout  (distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade) sem reconhecer a causa do seu sofrimento, seria na verdade uma espécie de gaslighting.

Seria o burnout médico uma consequência do gaslighting da saúde?

No contexto da saúde, essa transgressão é causada pela necessidade de realizar a impossível tarefa de satisfazer o paciente, o hospital, a seguradora e a nós mesmos de uma só vez. 

Anos de formação acadêmica e capacitação árduas aumentaram a resiliência do médico que se tornou um cabo de guerra que está sendo puxado para todos os lados, com dificuldades de prestar o melhor atendimento ao paciente, que é ao que dedicamos as nossas vidas.

A medicina é uma das muitas áreas do conhecimento ligada à manutenção e restauração da saúde. Ela trabalha, num sentido amplo, com a prevenção e cura das doenças humanas num contexto médico. 

Neste sentido ela deve ser assexuada, não priorizando o homem ou a mulher, apesar da história mostrar uma realidade diferente.

Durante milênios, as mulheres foram consideradas seres cuja mente, corpo e fluidos seriam regidos por fenômenos sobrenaturais, não tendo conexão alguma com a fisiologia. 

Doenças do aparelho reprodutivo eram creditadas a castigos e muitas alterações emocionais creditadas a entidades demoníacas pela igreja católica.

Histeria na Grécia antiga, termo que vem de hystero (útero), também foi creditado a mulher.

A medicina demorou muito a enxergar o organismo feminino pelo mesmo prisma científico que o organismo masculino, mas isso definitivamente ficou no passado na minha opnião e discordo da mídia que levanta a bandeira contra o gaslighting, e contra a masculinização da medicina.

Esta relação me chamou a atenção em relação a endometriose, me forçando a estudar sobre o assunto e decidi escrever este artigo. A endometriose é uma doença enigmática sabidamente de diagnóstico difícil decorrente da banalização e normalização dos sintomas por parte dos médicos e das pacientes, explicando o atraso no diagnóstico em até 10 anos no Brasil e no Mundo. 

Tenho certeza o que isto representa a curto e longo prazo e temos que estar vigilantes não utilizando expressões do tipo “você está estressada”,  “isso é psicológico”, “isso é normal”, “você não vai conseguir engravidar”, “você precisa conviver com a dor”, pois podem gerar circunstâncias que configuram um descrédito e levar a um dano.

Existe dificuldade do médico numa avaliação solitária e subjetiva da paciente, onde surge um cenário no qual cada paciente é único, com suas características nos aspectos físico e emocional; no meio de tantos recursos tecnológicos e condutas recomendadas, qual escolher e, por fim; qual postura adotar dentro de sua experiência, convicções e conhecimento?

A boa prática médica é aquela em que o médico, dentro do seu universo de possibilidades, respeita o indivíduo, lhe esclarece as variáveis e os cenários mais prováveis.

É fundamental relatar em prontuário as queixas, os exames solicitados, os medicamentos prescritos e a hipótese diagnóstica, porque se no futuro, este atendimento vier a ser questionado, estará documentada a atenção que foi direcionada ao paciente durante o atendimento.

Quando os médicos deixam de ouvir os pacientes e de entender suas circunstâncias únicas, correm o risco de perder oportunidades diagnósticas e terapêuticas importantes e serem culpados em estar fazendo o gaslight.

Apesar de ser a terceira geração de ginecologistas e obstetras, escolhi esta área por ter nos pilares básicos da saúde da mulher não só a prevenção contra os principais cânceres ginecológicos, mas o planejamento familiar, o planejamento pré concepcional e pré natal, educação continuada sobre ISTs, sexualidade e busca constante pela qualidade de vida, em especial na pós menopausa. 

Além disso, os avanços da cirurgia ginecológica assim como os avanços na reprodução humana são suficientes para condenarmos as pessoas que falam de uma masculinização da medicina, pois os homens não tem nada que se assemelhe a isto após sair da infância.

A medicina já foi uma área de médicos, mas vem sofrendo mudanças visíveis deste perfil nas faculdades e residências médicas e em breve as mulheres serão maioria no cenário nacional, e mais do que nunca responsáveis em mostrar que a medicina é assexuada e não deveria ter raça e nem classe social.

Leia também: Endometriose na bexiga e a falta de informação na saúde urinária feminina

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

Endometriose na bexiga, caso anitta e (des) informação na saúde urinária feminina

Endometriose na bexiga, caso anitta e (des) informação na saúde urinária feminina

Endometriose na bexiga e a falta de informação na saúde urinária feminina

Informação e desinformação na saúde urinária feminina

Toda mulher irá apresentar pelo menos um episódio de ITU (infecção do trato urinário) ao longo da vida, podendo ser considerado como normal a ocorrência de  até um episódio ao ano.

O aparelho urinário apresenta uma dualidade entre sintomas, diagnósticos e tratamentos muitas vezes simples e muitas vezes complexos.

Foi necessário nesta última semana uma celebridade, a cantora Anitta ser diagnosticada com endometriose para a mídia se mobilizar e discutir sobre a necessidade de conscientização sobre uma doença que não perdoa raça, cor e classe social com um atraso diagnóstico de 8 a 12 anos no Brasil e no Mundo.

“Anitta disse que sofria do problema há quase 9 anos e que acreditava sofrer de um quadro de cistite recorrente, uma infecção que acomete a bexiga e uretra provocada por uma bactéria, mas que os exames não indicavam a presença de microrganismos na região”.

A bexiga é um órgão flexível, de paredes musculares, localizado na pelve cuja principal função é armazenar a urina que é produzida pelos rins e conduzida até ela através dos ureteres antes de ser eliminada do corpo. 

A relação anatômica (proximidade) da uretra com a vaginal e com o ânus podem explicar porque uma mulher sexualmente ativa apresenta uma incidência maior de infecção urinária (colonização da bexiga por bactérias de forma ascendente através da uretra), mas não justifica uma banalização dos sintomas como acontece frequentemente.

A disúria em mulheres representa 2-5% dos motivos de consultas médicas e em 60 a 80% das vezes vai ter a presença de uma bactéria, apesar  de poder ocorrer infecção assintomática.

A bacteriúria assintomática não é normalmente tratada porque a erradicação das bactérias pode ser difícil e as complicações são normalmente raras. 

Além disso, o uso de antibióticos pode alterar o equilíbrio de bactérias no organismo (sangue), algumas vezes permitindo que surjam bactérias mais resistentes (difíceis de eliminar) .

Mulheres com sintomas urinários (dor, ardor, frequência, urgência, incontinência, retenção e esvaziamento incompleto) com cultura de urina negativa precisam buscar outras causas para o problema e não se acomodarem e banalizarem os sintomas.

Essa normalização e banalização de alguns sintomas urinários que desafiam os médicos e especialistas dificultam o diagnóstico definitivo por não esgotarem  todas as possibilidades e muitas vezes acabam classificando as pacientes como portadoras de síndrome da bexiga dolorosa (SBD).

A American Urological Association define SBD como a sensação desagradável (dor, pressão ou desconforto) percebida na região vesical e associada a sintomas do trato urinário inferior com mais de seis semanas de duração na ausência de infecção ou outra causa identificável.

 A Sociedade Europeia para estudo da SBD/CI (ESSIC) sugeriu em 2008 esta nova nomenclatura e sistema de classificação, pois a dor é uma característica fundamental dessa condição. A ESSIC sugere que o diagnóstico seja feito em três etapas. 

A primeira etapa é a seleção de pacientes que devem ter seu diagnóstico baseado na presença de dor pélvica crônica além de pressão, dor ou desconforto vesical e um ou mais sintomas como urgência urinária ou frequência miccional.

A queixa mais comum é de dor em hipogástrio (baixo ventre) associada a sintomas urinários irritativos: urgência, frequência, disúria e noctúria. Podem também estar presentes: dispareunia e dor na vagina. 

A segunda etapa é a exclusão de outras doenças como carcinoma de bexiga, doenças infecciosas (infecção urinária, chlamydia trachomatis, mycoplasma, herpes vírus, HPV), prolapsos, endometriose, candidíase vaginal, divertículo, câncer ginecológico, retenção urinária, dor relacionada ao nervo pudendo ou à musculatura do assoalho pélvico. 

Isso deve ser realizado através da anamnese, exame físico, exame comum de urina, urocultura, volume residual pós miccional, cistoscopia e biópsia da bexiga, se necessário e exames de imagem.

A terceira etapa é a classificação da SBD que pode em alguns casos apresentar um quadro mais específico com critérios diagnósticos bem estabelecidos chamado de cistite intersticial (CI).

Não há um exame que sele o diagnóstico da cistite intersticial, mas ele pode ser realizado através dos resultados da somatória de exames como o aspecto clínico, o diário miccional, o índice de sintomas, a urodinâmica e a cistoscopia que  apresenta glomerulações e/ou úlcera de Hunner. 

As evidências histológicas positivas incluem infiltrado inflamatório e/ou tecido de granulação e/ou presença de mastócitos (detrusor mastocytosis) e/ou fibrose intrafascicular. 

A cistite intersticial é uma doença crônica caracterizada pela irritação ou inflamação da parede da bexiga. Ela pode deixar cicatriz na bexiga, provocar um espessamento na sua parede, diminuindo a sua capacidade, associada a pontos de sangramento sendo sem dúvida uma importante causa de desconforto no baixo ventre em mulheres. 

Frequentemente estas mulheres passam por diversos médicos e realizam vários exames antes que o diagnóstico correto seja identificado, causando grande ansiedade. 

Como o diagnóstico da cistite intersticial é difícil de ser feito e inicialmente, na maioria dos casos, não é encontrado nenhum problema anatômico, sugere-se de forma errada que a causa seja emocional, sendo taxadas como estressadas e com desinteresse pelo ato sexual, gerando desajustes conjugais. 

Essas pacientes podem passar a manifestar fadiga excessiva, depressão, desânimo para as atividades do cotidiano, insônia e sonolência diurna. Além disso, estas mulheres têm sérias dificuldades e desconfortos no trabalho, em viagens e nas relações familiares.

Em função de todo o processo inflamatório, a dor geralmente é mais severa quando a bexiga está repleta de urina e alivia, pelo menos parcialmente, com o esvaziamento vesical. 

Essa condição leva a uma redução importante da qualidade de vida acometendo geralmente 90% das mulheres, brancas e com idade média de 40 anos.

A sua causa não é completamente conhecida e muitas teorias têm sido propostas como:

  • Agressão da bexiga por substâncias tóxicas da urina.
  • Doença autoimune (as células do próprio corpo lesam a bexiga).
  • Defeito na permeabilidade da parede da bexiga.

 A fisiopatologia (causa) desta doença envolve uma disfunção do epitélio urinário que passa a produzir glicosaminoglicanas (GAG) e proteoglicanas, formadoras do muco vesical, ineficientes. Esta falha na proteção do muco vesical ao urotélio propicia o contato direto das toxinas da urina com a parede vesical, desencadeando a patologia. 

Os sintomas normalmente são episódicos, com períodos de agudização e remissão, tornando-se mais intensos com a evolução da doença. A exacerbação da doença normalmente ocorre no período pré-menstrual. 

Os sintomas podem piorar com estresse, relação sexual, menstruação e com a ingestão de determinados alimentos e bebidas (bebida alcoólica, alimentos ácidos laranja, limão, abacaxi, café, chá preto, alimentos condimentados, bebidas gasosas.

Tratamentos conservadores incluem dieta anti-inflamatória, suporte psicológico, medicamentos (Amitriptilina –antidepressivo, anti-histamínico, ciclosporina e pentosan polissulfato) com possibilidade de uso intravesical (DMSO, Pentosan polissulfato, BCG, Ácido hialurônico).Tratamentos cirúrgicos incluem o uso do botox, da hidrodistensão, da derivação urinária, neuromodulação sacral e cistoplastia para aumento vesical.Apesar de todos os tratamentos mencionados, eles não apresentam altos índices de resolução definitiva, sendo necessário individualizar a conduta conforme a evolução de cada caso.

Existe uma elevada associação entre CI, DIP (doença inflamatória pélvica) e ITU de repetição com endometriose.

A associação entre estas doenças e várias síndromes somáticas funcionais com a endometriose levou alguns autores (Wessely et al ) a questionarem este diagnóstico como se estivéssemos diante de um artefato da medicina, razão pela qual a endometriose deve ser encarada como uma doença sistêmica.

A endometriose acomete uma em cada 10 mulheres em idade fértil que podem apresentar sintomas específicos ou inespecíficos, inicialmente relacionados a variações hormonais que após se tornam constantes.

Como pudemos perceber o desafio em realizar o diagnóstico de endometriose não é nada evidente, principalmente se o sistema acometido for o urinário.

Sintomas da endometriose na bexiga

Os principais sintomas de endometriose na bexiga são frequência e urgência com dor ou ardor ao urinar devido a bexiga estar cheia e raramente a presença de sangue na urina diferente do que muitos imaginam.

Um exame essencial para o diagnóstico de endometriose na bexiga é o ultrassom com a bexiga cheia. É importante também que este ultrassom seja realizado por um especialista em endometriose. 

Isso porque nem todos os profissionais da saúde sabem diagnosticar a endometriose com precisão, o que pode afetar o resultado. O diagnóstico da endometriose na bexiga pode ser complementado pela ressonância nuclear magnética capaz de avaliar também toda a via urinária (uroressonância).

A cistoscopia ajuda no diagnóstico e na avaliação prévia da cirurgia. Quando a área vesical do trígono da bexiga urinária fica inflamada, a condição médica é conhecida como Trigonite. O trígono vesical é a região triangular da bexiga, que é ligada pelos orifícios ureterais e pelo esfíncter uretral. É uma região sensível, lisa e plana e se a bexiga se enche, ela se expande também. O termo trigonite refere-se às alterações metaplásicas que ocorrem no trígono vesical. Descrito pela primeira vez por Heyman, em 1905, o distúrbio é mais comum em mulheres jovens e, felizmente, possui prognóstico benigno.

As alterações metaplásicas escamosas do trígono vesical podem ser observadas em cerca de 40% das mulheres em idade fértil.Em alguns casos temos achados histológicos de mullerianose (primeiramente descritas em 1966 por Clement and Young), onde células metaplásicas mullerianas são transformadas em células endometriais, desenvolvendo um tipo especial de endometriose.

Caso você tenha dores pélvicas constantes com piora ao urinar, procure um ginecologista ou urologista e insista na pesquisa de endometriose. A cirurgia é o tratamento de escolha no caso de endometriose das vias urinárias , mas só quem poderá fazer esta indicação é o médico que deverá ter uma equipe multidisciplinar para fazer esta abordagem.

Caso não seja tratada, a endometriose na bexiga e nas vias urinárias pode comprometer o bom funcionamento e trazer problemas irreversíveis. Um deles é a necrose asséptica dos rins decorrente de uma obstrução ureteral silenciosa por endometriose  que ao obstruir os ureteres provocam dilatação com perda renal definitiva.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

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Ansiedade e depressão batendo recorde no Brasil

Ansiedade e depressão batendo recorde no Brasil

Ansiedade e depressão batendo recorde no Brasil

O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o 5º mais depressivo segundo a OMS e mesmo assim estes problemas são frequentemente tratados como tabu.

Transtornos mentais são síndromes caracterizadas por perturbações consideradas clinicamente significativas na percepção, no emocional e no comportamental de um indivíduo que podem ter impactos drásticos na vida das pessoas que os possuem.

A ansiedade e a depressão são ambos transtornos mentais que frequentemente andam juntos, pois pessoas que têm depressão acabam por desenvolver ansiedade e o contrário também é verdadeiro.

Apesar de possuírem causas, sintomas e tratamentos diferentes, ambas fazem com que o indivíduo tenha prejuízos na sua rotina social, profissional e comportamental.

A depressão não escolhe cor, não escolhe sexo, não escolhe classe social mas é duas vezes mais comum nas mulheres e podeser considerada o mal do século XXI

O que é a ansiedade?

As pessoas entendem que ansiedade significa impaciência, desejo que algo aconteça logo quando na verdade é muito mais do que isto. 

Ela é um sentimento ligado à preocupação, nervosismo e medo decorrente de uma reação que todo indivíduo experimenta diante de algumas situações do dia a dia, como falar em público, expectativa para datas importantes, entrevistas de emprego, vésperas de provas, exames de saúde entre outras.

Trata-se de uma resposta do corpo vinda do sistema nervoso autônomo, que age independente do nosso pensamento racional, como se fosse um reflexo.

A porção simpática, que tem reações de resposta ao estresse, preparam o corpo para fugir ou lutar em uma situação de perigo. Para isto temos a liberação de adrenalina, que causa reações como acelerar os batimentos cardíacos e contrair os vasos sanguíneos melhorando a circulação, dilatar os brônquios para aumentar a respiração e o consumo de oxigênio, diminuir a motilidade do intestino para guardar energia para outras ações, dilatar as pupilas para melhorar a visão mesmo em pouca luz e aumentar a liberação da glicose no sangue para dar mais energia às células. 

A liberação do cortisol também ocorre neste processo, o que traz alguns outros impactos ao corpo, como aumento da gordura corporal, inibição do muco da parede gástrica diminuindo a sua proteção e provocando fadiga no cérebro.

Na pandemia, algumas pessoas vivenciaram esta reação de forma mais presente e intensa o que acabou comprometendo a saúde emocional e gerando sintomas.

Quais são os sintomas da ansiedade?

Dentre os vários sintomas compatíveis com ansiedade, temos a insônia, a falta de ar ou respiração ofegante, o ataque de pânico, tremores, preocupação excessiva, inquietação, tensão muscular, dor no peito, batimentos cardíacos acelerados, problemas digestivos, alterações no apetite, medos irracionais, pensamentos obsessivos e distúrbios sexuais.

A ansiedade excessiva pode se tornar uma doença (CID-10, F41.1), conhecida como transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

Na TAG a pessoa não consegue relaxar, pois apresenta preocupação excessiva com a vida e em relação a tudo que envolve sua rotina: estudos, vida profissional, condições de saúde e segurança dos amigos e familiares. 

Outros tipos de ansiedade são o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) que é associado a ações repetidas, rituais compulsivos e situações marcadas por ideias obsessivas, a fobia social que é caracterizada pelo medo intenso e desmedido de algo que não existe ou que nem mesmo representa perigo.

Temos ainda a síndrome do pânico que pode ser desencadeada por diferentes fatores, mas geralmente ocorre sem nenhum motivo aparente, a ansiedade por estresse pós-traumático que resultam da ocorrência de flashbacks e pesadelos que geraram um evento traumático no passado. 

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em 2021, confirmou o aumento de casos de doenças mentais com a pandemia.

De acordo com a pesquisa, o Brasil lidera com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%), seguido, respectivamente, da Irlanda e dos Estados Unidos.  

Um outro estudo desenvolvido em conjunto pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constatou que 40,4% dos brasileiros participantes do estudo estavam tristes ou deprimidos, e 50,6% ansiosos ou nervosos durante a pandemia.

De acordo com dados apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 9,3% da população ansiosa, aproximadamente 19,4 milhões de pessoas.

A conjuntura política, social e econômica do Brasil tem se apresentado complicada no pós-pandemia devido a uma recuperação lenta da economia diante de uma inflação elevada associada às incertezas políticas decorrente das eleições e do cenário mundial de Guerra.

Não se sabe ao certo por que algumas pessoas são mais propensas à ansiedade descontrolada do que outras. Alguns dos fatores que podem estar envolvidos nisso são a genética, o ambiente, a mentalidade, o modelo de pensamento e as doenças físicas. 

Entre as doenças físicas que podem estar relacionadas à ansiedade, encontramos os problemas cardiovasculares, as doenças hormonais, os problemas respiratórios, as dores crônicas, o abuso de drogas, álcool ou medicações como os benzodiazepínicos que devem ser pesquisados quando indicado.

Vale destacar que os sintomas desses tipos de ansiedade podem ser confundidos, daí a importância do apoio de um profissional especializado para receber um diagnóstico diferenciado e realizar o tratamento mais adequado. 

Os profissionais da área contam com ferramentas para realizar o diagnóstico, orientar a terapêutica e ajudar no acompanhamento do paciente.

Uma das ferramentas é a escala de depressão de Beck ou inventário de depressão de Beck  criada por Aaron Beck que consiste em um questionário de auto-relato com 21 itens de múltipla escolha

Existem três versões da escala: a BDI original, publicada em 1961, a revisada de 1978 e a publicada em 1996 sendo um dos instrumentos mais utilizados para medir a severidade de episódios depressivos

Seu desenvolvimento marcou uma mudança entre os profissionais de saúde mental, que até então entendiam a depressão em uma perspectiva psicodinâmica, ao invés de enraizada nos próprios pensamentos dos pacientes (cognição). 

Na sua versão atual, o questionário é desenhado para pacientes acima de 13 anos de idade e é composto de diversos itens relacionados aos sintomas depressivos como desesperança, irritabilidade e cognições como culpa ou sentimentos de estar sendo punido, assim como sintomas físicos como fadiga, perda de peso e diminuição da libido

O questionário DASS-21 (Depression, Anxiety and Stress Scale) é um teste de depressão, ansiedade e stress que mede os níveis desses transtornos a partir de comportamentos e sensações experimentados nos últimos sete dias. 

Ele tem 21 perguntas e leva cerca de 3 minutos para ser respondido, foi desenvolvido na Austrália e possui capacidade de mensurar simultaneamente e distinguir a depressão, a ansiedade e o estresse.

Os trabalhos compararam as propriedades psicométricas do DASS-21 com as Escalas de Beck para ansiedade e depressão, obtendo resultados semelhantes na comprovação das análises fatorial exploratória e confirmatória. 

O DASS fornece o ponto de partida e aponta a direção a tomar embora  o questionário não seja concebido como uma ferramenta diagnóstica, pois uma série de sintomas típicos da depressão (alterações no sono, no apetite e o surgimento de distúrbios sexuais) não são cobertos por ele e precisam ser avaliados de forma independente. 

No caso das mulheres, muitas disfunções do aparelho reprodutor feminino são resultantes de altos níveis de ansiedade, como a candidíase, o herpes e as irregularidades menstruais.

A infertilidade decorrente do mal funcionamento hormonal ocorre devido a alteração do funcionamento ovariano que é controlado pelo eixo hipotálamo-hipófise e ovário. 

Em cada pico de estresse, há um pico de adrenalina e, consequentemente, um estímulo hormonal inadequado, gerando alterações menstruais, alterações na ovulação e da imunidade que está por trás de várias doenças na mulher.

 A endometriose, considerada a doença da mulher moderna, consiste na presença  de  endométrio fora da cavidade uterina decorrente muitas vezes do refluxo menstrual que não consegue ser eliminado devido a defeitos na autoimunidade. 

As mulheres portadoras da endometriose apresentam um perfil próprio publicado pelo Dr Jorge Safe há mais de 30 anos. 

Leia mais sobre o perfil próprio das portadores de endometriose.

A ansiedade é umas das características deste perfil conforme trabalho realizado por nós que constatou que as mulheres com endometriose em relação ao grupo controle eram 55x mais ansiosas, 29x mais ansiosas em conquistar as coisas de forma rápida e 22x mais preocupadas em fazer as coisas de forma perfeita e individual.

O perfeccionismo é considerado um traço da personalidade que compreenda a busca constante pela perfeição, desde o trabalho até as ações, estabelecendo padrões elevados para qualquer atividade ou prática do dia a dia.

O perfeccionismo também pode prejudicar de diferentes formas. Uma delas é a busca cega pela perfeição que influencia negativamente o estado mental e emocional.  Não raro pessoas perfeccionistas desenvolvem depressão, ansiedade, insônia e distúrbios alimentares.

Os desafios do controle da ansiedade começa com a descoberta dos gatilhos emocionais que podem ser identificados por conta própria ou com ajuda do terapeuta. 

Quais os tipos de tratamentos para ansiedade?

Existem três tipos de tratamento para os transtornos de ansiedade como o uso de medicamentos (sempre com acompanhamento e receita médica), a psicoterapia com psicólogo ou com médico psiquiatra ou a combinação de ambos.

Muitos desses distúrbios não precisam de medicamentos, salvo quando o caso é muito grave ou se há sintomas de depressão. 

Posturas corporais, exercícios respiratórios, relaxamentos e meditação são algumas das ferramentas que o yoga oferece para combater a ansiedade. 

A combinação dessas técnicas ajuda a mudar o padrão respiratório, acalmar os pensamentos e diminuir as reações do corpo.

A meditação ajuda a lidar com as preocupações e as emoções, através do controle da respiração e da atenção plena ao momento presente.

Para meditar, não é preciso sentar em um ambiente silencioso e esvaziar a mente: o hábito pode ser aplicado nas atividades diárias. 

Padmasana é uma postura que acalma o cérebro e favorece a concentração ao estimular a pélvis, a coluna, o abdômen e a bexiga, alongando os tornozelos e os joelhos.

As técnicas da hipnose utilizam a mudança do estado de consciência para reduzir a ansiedade, mas requerem avaliação caso a caso. 

Imagine prestar total atenção àquilo que você está fazendo no momento: dirigir focado na estrada, observar a mastigação enquanto come… É isso o que o mindfulness propõe para afastar a ansiedade.

As picadas de agulha também podem ser aliadas no tratamento contra a ansiedade. Por meio do estímulo de pontos específicos do corpo, a acupuntura leva à liberação de neurotransmissores naturais do organismo, como a endorfina e a serotonina.

Algumas vertentes do budismo incluem mantras que ajudam o praticante a se concentrar e evitar aflições sobre o futuro. 

Recitar o mantra em voz alta, com atenção, repetidas vezes e em ritmo constante também é uma das formas de se atentar ao momento presente.

Tomar medidas para reduzir o estresse no trabalho ou em casa pode ser um primeiro passo e pode ajudar todas as pessoas, em especial as mulheres geralmente mais sobrecarregadas com as demandas do mundo atual e da sociedade.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

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