Saúde dos filhos das Técnicas de Reprodução Assistida (ART)

Saúde dos filhos das Técnicas de Reprodução Assistida (ART)

Saúde dos filhos das Técnicas de Reprodução Assistida (ART)

Artigo recente da revista Nature correlacionou o 
nascimento por ART e doenças da velhice.

Um tema comum que preocupa as “tentantes” no início do tratamento de fertilização in vitro (FIV) é se esse tratamento pode aumentar as chances de malformação ou anormalidade do bebê. 

Há uma preocupação bem antiga a respeito desse tema muito estudado para garantir a segurança destas técnicas.

Caso isto ocorresse estaríamos diante de um problema de saúde pública, pois nos últimos 40 anos mais de 8 milhões de crianças nasceram de um tratamento de reprodução assistida.

 A malformação congênita em bebês nascidos através de FIV é ligeiramente maior do que bebês nascidos através de gravidez espontânea mas sem significado estatístico após ajustes dos dados para fatores que poderiam influenciar o resultado como idade, gravidez única/múltipla e condição de fertilidade/infertilidade.

Em outras palavras, o tratamento de FIV não é o real responsável pelo aumento dos riscos para malformação, mas sim, a condição de infertilidade.

Outro ponto é que as mulheres que procuram a fertilização in vitro, geralmente são mais velhas sendo comprovado cientificamente que a progressão da idade diminui a fertilidade na mulher e aumenta as chances de ela ter um filho com alterações genéticas.

Na gravidez natural, os espermatozóides depositados na vagina “caminham” pelo útero e tubas, até encontrarem o óvulo (oócito). 

Nessa “caminhada”, muitos são eliminados pelo organismo feminino, acreditando-se que apenas os mais “fortes” consigam chegar ao óvulo através de uma espécie de seleção “natural” dos espermatozóides, semelhante ao que aconteceria com uma FIV clássica.

Quando se realiza a injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI), a seleção é feita pelo olho do observador, levando em conta a motilidade e a morfologia do espermatozóide que pode não ser tão bom quanto a “seleção natural” mencionada.

Durante o desenvolvimento embrionário, podem ocorrer erros na divisão das células, levando à alteração cromossômica que podem causar problemas no desenvolvimento do bebê, fazendo com que a gestação evolua para aborto espontâneo, ou mesmo o bebê se desenvolva com alguma síndrome, como a trissomia do cromossomo 21, conhecida como Síndrome de Down, por exemplo.

Além da possibilidade de alterações cromossômicas, cada embrião carrega as características genéticas dos seus progenitores, ou seja, se um dos familiares for portador de alguma alteração genética grave ou algum tipo de mutação, o embrião pode apresentar a mesma condição ou mesmo uma doença genética grave como a anemia falciforme e a fibrose cística.

O estudo genético embrionário tem se mostrado uma técnica segura com baixas taxas de erro no diagnóstico se realizado em laboratórios com profissionais experientes.

O teste genético pré-implantacional (PGT) permite a identificação de possíveis doenças genéticas no embrião antes da sua transferência para a cavidade do útero.

Em 2017, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma normativa ética (Resolução nº 2.168/2017) que autoriza a realização da biópsia embrionária em cenários pré-estabelecidos. 

Os dois principais tipos de biópsia embrionária são o PGT-A e o PGT-M.

O “A” da sigla significa aneuploidia e nesse tipo de avaliação, a técnica tem o objetivo de rastrear mais de 100 doenças genéticas, principalmente aquelas relacionadas à alteração do número de cromossomos (aneuploidies –  Síndrome de Down, Patau, Edwards, entre outras).

O “M” da sigla representa doenças monogênicas e nesse tipo de avaliação, a técnica tem o objetivo de rastrear doenças hereditárias específicas, ou seja, doenças que acometem vários membros da mesma família e que apresentam alto risco de transmissão para seus descendentes (Anemia Falciforme, Fibrose Cística, neuropatias, entre outras).

A análise genética embrionária é realizada nos ciclos de FIV, antes da transferência dos embriões para o útero com uma agulha bem fina ou laser após cinco a seis dias da fertilização, quando os embriões estão no estágio de blastocisto.

As células biopsiadas são retiradas da parte embrionária que formará a placenta e outros anexos da gestação e não da região que irá formar o bebê.

As células biopsiadas são congeladas, identificadas e enviadas para a análise pelo geneticista enquanto os embriões são congelados e ficam armazenados em botijões com nitrogênio líquido em ambiente seguro e controlado.

Muito se discute sobre a possibilidade de o PGT estar associado a algum dano no embrião e esse dano dificultaria  a implantação embrionária. Essa seria uma das justificativas do porquê embriões saudáveis não se implantam no útero. 

Outro ponto de discussão é que a taxa de nascimento de bebês não aumenta com o procedimento e, por isso, o procedimento não deve ser realizado rotineiramente devido aos elevados custos.

Um artigo publicado recentemente em 15 de dezembro de 2022 pela revista Nature cujo título em português é o “Comprimento dos telômeros de leucócitos em crianças nascidas após a transferência de embrião no estágio de blastocisto” mostrou que crianças nascidas de ART apresentavam um maior risco de apresentar doenças da velhice (doença cardiovascular e câncer além de uma menor expectativa de vida ) devido a diminuição do tamanho da telomerase em especial nas crianças submetidas a biópsia de blastocisto pré implantacional.

Crianças nascidas de ART têm maior risco de apresentar baixo peso ao nascer, e parto prematuro que são risco para doenças cardíacas e metabólicas.

Os estudos atuais com pessoas nascidas de reprodução tem uma limitação de terem participantes com no máximo 32 anos de idade.

Isto acendeu um alerta trazendo à tona velhas perguntas que precisarão de novas respostas, além de um posicionamento das sociedades.

Alguns pesquisadores chineses realizaram a biópsia embrionária não invasiva utilizando  o material genético obtido do próprio meio de cultivo onde o embrião é colocado.

 Trata-se de um procedimento não invasivo e promissor porque não causaria danos ao embrião, mas que segundo as duas maiores sociedades internacionais de reprodução humana (ASRM e ESHRE) ainda é experimental e não deve ser utilizado de rotina.

A FIV é uma técnica muito segura com um controle rigoroso dos laboratórios e ciclos pela Anvisa, mas ainda existem várias especulações sobre a segurança em relação a alguns assuntos!

Embora várias pesquisas tenham sido feitas, ainda não há uma resposta definitiva de que a ART não colabora para o aumento da incidência de malformações. 

Precisamos de mais pesquisas para entender o relacionamento entre esses problemas e o meio usado para a cultura do embrião, o momento da transferência do embrião, os efeitos da estimulação do ovário, o uso do ICSI, o congelamento dos gametas e embriões e o diagnóstico pré implantação.

Seja lá qual for a resposta, sempre haverá algum risco, mesmo que pequeno, da concepção de um bebê que possa ter alguma malformação. 

Se não existisse a reprodução assistida muitos destes casais provavelmente não teriam a oportunidade de ter filhos!

O casal após conversar com o fertileuta precisa se posicionar e responder se estão dispostos a aceitar esse risco, em troca da imensa felicidade que é ter um bebê.

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Sobre mim

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

Medicina regenerativa e saúde reprodutiva

Medicina regenerativa e saúde reprodutiva

Medicina regenerativa e saúde reprodutiva

A medicina regenerativa (MR) é uma área emergente da medicina com uma atuação diferente da medicina clínica que prioriza o tratamento dos sintomas.

Na MR os fatores de crescimento obtidos a partir do plasma sanguíneo da própria paciente são aplicados no endométrio ou nos ovários com o objetivo de regenerá-los e melhorar os resultados reprodutivos.

A Medicina Regenerativa nasceu no ano de 1997 com o uso do plasma rico em plaquetas (PRP) que é a parte líquida do sangue que contém grande quantidade de plaquetas na cola de fibrina.  

As plaquetas são pequenos fragmentos de células produzidas na medula óssea e tem a função de controlar o sangramento (coagulação) por meio da produção de substâncias (fatores de crescimento e citocinas) e da formação de novos tecidos e vasos sanguíneos.

A partir deste “efeito regenerativo” de tecidos e formação de novos vasos sanguíneos (neovascularização), o PRP passou a ser investigado em diferentes áreas da medicina.

A medicina regenerativa reúne especialistas em áreas médicas como a odontologia, a traumatologia, a oftalmologia, a medicina estética, a cirurgia plástica,  a ortopedia e, mais recentemente, a ginecologia (reprodução humana).

As áreas da biologia, química, ciência da computação, engenharia, genética e robótica também ajudam neste processo de busca de soluções para alguns problemas médicos desafiadores enfrentados pela humanidade na busca da cura e auto regeneração.

O que é medicina regenerativa?

A medicina regenerativa se baseia no emprego de células-tronco com potencial de diferenciação multipotente e/ou produtos biológicos como o PRP.

O uso de células tronco embrionárias possibilita reparar ou substituir células, tecidos ou órgãos danificados por alguma doença, trauma ou problemas congênitos. 

O plasma rico em fatores de crescimento (PRGF), tem uma alta eficácia e segurança, trazendo riscos mínimos para a paciente. 

É um processo autólogo (quando se utiliza tecido ou órgão do próprio indivíduo), que não apresenta problemas de incompatibilidade. 

Trata de uma técnica indolor, rápida, segura e com relativas garantias de sucesso que trazem uma nova esperança para algumas mulheres.

A redução da quantidade de óvulos com o avanço da idade, o endométrio fino e as falhas repetidas no tratamento de reprodução assistida são alguns dos cenários que podem tornar a jornada da mulher tentante longa e desgastante. 

Estes desafios estimulam a ciência a trabalhar constantemente para desenvolver técnicas que possam melhorar os resultados e garantir o nascimento de um bebê!

Vários experimentos com o PRGF vem ganhando espaço na medicina reprodutiva com resultados iniciais promissores, principalmente no tratamento de casos de endométrio refratário (quando não atinge uma espessura necessária para hospedar uma gravidez), falência ovariana prematura e baixa reserva ovariana.

Sabemos que as condições endometriais ideais são necessárias para a implantação do embrião, podendo afetar o resultado de um ciclo de fertilização in vitro (FIV).

O endométrio é a mucosa que recobre a parede interna do útero com o objetivo de fornecer proteção contínua contra patógenos que tenham acesso à cavidade uterina, ao mesmo tempo em que permite a implantação embrionária, um evento único e crucial para a continuação da espécie em mamíferos

Ele é formado por vasos sanguíneos e glândulas que são estimuladas pelos hormônios ovarianos (o estrogênio e a progesterona). Ao longo do ciclo feminino, sua espessura e vascularização passam por alterações. 

Logo após a menstruação o endométrio encontra-se totalmente descamado e pronto para aumentar de tamanho, esta fase chama-se proliferativa, e nesse período o estrogênio promove a liberação de células que aumentam sua espessura, assim como os vasos sanguíneos e as glândulas exócrinas.

Na fase secretora, que acontece durante o período fértil, o estrogênio e a progesterona irão fazer com que o endométrio tenha todos os nutrientes necessários para a implantação e nutrição do embrião. 

Caso não ocorra a fecundação, esse tecido irá diminuir de espessura devido a queda brusca de hormônios na corrente sanguínea dando origem ao sangramento que conhecemos por menstruação. 

A principal causa do endométrio fino é a falta de progesterona, mas isso também pode acontecer devido ao uso de anticoncepcionais, útero infantil, infecção e lesões após aborto ou curetagem.

Na área da reprodução humana assistida, o momento entre a ovulação e os cinco dias subsequentes é conhecido como janela de implantação.

Para medir sua espessura, assim como avaliar as condições anatômicas do endométrio, é necessário fazer um ultrassom transvaginal. Se o endométrio for considerado fino, é necessário adequar um nova estratégia para prepará-lo para a implantação.

Nesse caso, o preparo endometrial é feito com o uso de medicamentos hormonais, à base de estrogênio na primeira fase e progesterona no período final. Com eles, consegue-se induzir o espessamento do endométrio, deixando-o em condições ideais para o desenvolvimento embrionário.

Além do US, o endométrio também pode ser avaliado por meio de exames ginecológicos a histeroscopia e a ressonância magnética, por exemplo, em que o ginecologista verifica se há algum sinal de doença ou alteração nesse tecido. 

A endometrite crônica (EC) é uma doença que, apesar de ainda pouco investigada, tem sido associada a resultados reprodutivos desfavoráveis. 

Estudos têm mostrado que a EC pode prejudicar a receptividade endometrial, levando a falhas de implantação e perdas gestacionais recorrentes.

Através de biópsias de endométrio, você pode ter uma visão completa da saúde endometrial aumentando as chances de sucesso em um tratamento de reprodução humana assistida. 

Os testes EndoméTRIO é constituídos pelo EMMA que determinará se o ambiente microbiano uterino é ideal ou não para a implantação embrionária, pelo ALICE que fornecerá uma lista com os antibióticos e probióticos recomendados na vigência de uma endometrite e pelo ERA que vai avaliar a janela de implantação orientando a transferência em pacientes com repetidas falhas de implantação.

Alguns pacientes com as alterações acima podem se beneficiar do tratamento IVI RENOVA (PRP).

Ele tem o objetivo de regenerar o endométrio da mulher, permitindo que o endométrio alcance a espessura necessária para favorecer a implantação do embrião.

O uso do PRP dentro da cavidade do útero parece aumentar o aporte sanguíneo para o endométrio e, consequentemente, sua espessura melhorando os resultados da FIV embora ainda precise ser validada com estudos científicos de peso e com um maior número de pessoas.

No endométrio, o PRP é aplicado através de um cateter (semelhante ao cateter da inseminação artificial ou da transferência embrionária) dentro da cavidade uterina a partir do oitavo dia do ciclo e pode ser repetido até a transferência embrionária.

Mas, não pense que o papel do endométrio para engravidar termina aí. É importante ressaltar que, ao deixá-lo com uma espessura adequada, previne-se uma série de complicações obstétricas, tais como a placenta acreta (implantação anormal), o descolamento placentário, a pré-eclâmpsia, aprematuridade e o crescimento intra uterino retardado entre outras.

A medicina regenerativa pode ajudar ainda as pacientes diagnosticadas com falência ovariana prematura (menopausa precoce ou antecipada – abaixo dos 40 e 50 anos respectivamente) ou mulheres com baixa reserva ovariana, onde a escassez de folículos que podem responder à estimulação ovariana resulta em baixo desempenho oocitário e alta taxa de cancelamento do ciclo após o tratamento de reprodução assistida.

A injeção de plasma enriquecido com fatores de crescimento no ovário pode permitir a restauração e reparação dos processos fisiológicos que afetam o recrutamento folicular, auxiliando na recuperação da função ovariana.

Como é realizado?

A técnica é realizada em duas fases onde após a coleta de sangue periférico que é centrifugado para a separação das células brancas, vermelhas, plasma e das plaquetas é realizado uma aplicação do PRP nos ovários por via cirúrgica ou não cirúrgica (guiada por ultrassonografia, como se fosse a punção para coleta de óvulos na FIV).

Um estudo realizado na Grécia com mulheres que apresentavam baixa reserva ovariana demonstrou redução dos níveis de FSH (67,3%), aumento do nível do AMH (75,2%) com uma gestação espontânea e um nascimento. 

Um novo artigo demonstrou resultados ainda mais promissores através da aplicação por meio da punção ovariana por, no mínimo, dois meses (uma aplicação/mês) da restauração da menstruação, melhoria do FSH, AMH e contagem de folículos em até 60% das pacientes.

O IVI, maior centro de reprodução assistida do Mundo, inaugurou em 2021 uma unidade de regeneração ovariana em Alicante, na Espanha, que promete trazer dados animadores.

Esses dados preliminares demonstram que o PRP é uma técnica promissora para mulheres com baixa reserva ovariana, mas que ainda é considerada experimental, necessitando ter sua segurança e benefício comprovados.

O acompanhamento médico é essencial para evitar complicações de cada doença, manter a saúde uterina  e ovariana, além de aumentar as chances de gravidez.

Embora a MR seja promissora na reprodução assistida, ela ainda é considerada experimental para rejuvenescimento ovariano, podendo ser indicada em alguns casos selecionados de endométrio fino após avaliação médica especializada.

Leia também: Infertilidade: Tratamento para todos

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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Esterilização feminina: liberdade com moderação.

Esterilização feminina: liberdade com moderação.

Esterilização feminina: liberdade com moderação.

No Brasil 76,6% das mulheres em idade  fértil utilizam algum método contraceptivo, existindo um predomínio de laqueadura (40,1%) que traz preocupação.

O controle da reprodução faz parte da sobrevivência do ser humano e das novas tendências de liberdade. 

Nas últimas décadas um número cada vez maior de casais vêm optando pela esterilização definitiva (laqueadura tubária e vasectomia) sem preocupações com possíveis repercussões clínicas e psicológicas que possam advir. 

A lei 14.443/2022 recentemente aprovada entrará em vigor em março de 2023 e traz algumas mudanças dispensando a autorização do companheiro no caso da mulher, diminuindo a idade de 25 para 21 anos, permitindo a esterilização durante o parto e determinando que o Sistema Único de Saúde (SUS) respeite o prazo de 30 dias para oferecer os métodos contraceptivos.

Permanece a necessidade de pelo menos 2 (dois) filhos vivos além do prazo mínimo de 60 (sessenta) dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, inclusive aconselhamento por equipe multidisciplinar, com visitas a desencorajar a esterilização precoce.

O que é a esterilização? Qual o objetivo?

A cirurgia leva vários nomes como ligadura tubária, laqueadura ou ainda Contracepção Voluntária Cirúrgica Definitiva (CCVD). 

O objetivo do procedimento é obstruir as tubas uterinas e impedir que os óvulos e os espermatozóides se unam.

Para compreender o efeito da ligadura das trompas, é importante conhecer a estrutura do sistema reprodutor feminino. 

As tubas uterinas, que também são denominadas como trompas de falópio, são caracterizadas por dois tubos que ligam o útero aos ovários. 

É exatamente nas trompas que ocorre o encontro entre as células germinativas do homem e da mulher para dar início à gravidez.

Os resultados dessa cirurgia costumam ser definitivos, isto é, a maior parte das mulheres que se submetem à ligadura das trompas não engravida mais.

São bem raros os casos em que ocorre alguma reversão natural e uma gestação inesperada, fato este relacionado com a técnica cirúrgica utilizada, o tempo de cirurgia e a idade da mulher. 

Os índices de falha ficam abaixo de 2% (média de  5 mulheres em cada 1000), considerando avaliação da taxa cumulativa referente a um período de 10 anos, incluindo  a gravidez ectópica.

Como é realizada a cirurgia?

O procedimento pode ser feito por via abdominal (laparotomia e videolaparoscopia) ou vaginal (histeroscopia e colpotomia – abertura do fundo de saco vaginal). 

A laparotomia é feita a partir de uma incisão suprapúbica que permite o acesso ao interior do corpo feminino e o manuseio das tubas. Mais dolorosa e com mais complicações.

Já a videolaparoscopia é uma técnica menos invasiva que é realizada  através de  portais de acesso com diâmetros mínimos  de cinco milímetros sendo responsável por uma menor dor pós-operatória, mais rapidez na realização do procedimento e no restabelecimento da paciente.

Para a obstrução das trompas podem ser utilizados diferentes recursos, como fio cirúrgico, eletrocoagulação, clipe (ou grampo) e anel de silicone.

A ligadura das trompas deve ser evitada ao máximo, visto que é um método de esterilização definitiva e pode, inclusive, trazer arrependimento à paciente. 

O arrependimento e a depressão, por exemplo, são possíveis efeitos emocionais nas mulheres que se tornam estéreis.

Por isso, a decisão final sobre fazer ou não a laqueadura cabe sempre à mulher, sendo que o preparo psicológico é uma das etapas mais importantes antes da execução da cirurgia.

Muitas mulheres  que se arrependem desconhecem outros métodos contraceptivos e pensam que a operação é reversível, além de ignorar que fatores como a mudança de parceiro, a perda dos filhos ou mudança nas condições financeiras podem influenciar no futuro.

Mulheres que se arrependem podem tentar a reversão da laqueadura com a realização de uma nova cirurgia, a reanastomose tubária, bem mais complexa e difícil.

As chances de êxito da cirurgia de reversão da laqueadura são reduzidas (40%), e depende de fatores como a preservação da porção final das tubas, o tempo da realização do procedimento e a experiência do cirurgião.

Muitas mulheres acabam precisando de técnicas de fertilização in vitro (os chamados bebês de proveta), procedimento caro e pouco disponível no SUS.

De cada 100 mulheres que procuram atendimento no Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), 15 fizeram laqueaduras e, agora, querem de volta a possibilidade de terem filhos. 

Levantamentos do Ministério da Saúde e dos planos privados de saúde e pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), mostram que caiu a proporção de mulheres que recorrem à laqueadura, enquanto aumentou o uso de métodos contraceptivos não definitivos, como o diafragma intra-uterino (DIU) e o diafragma. 

O homem passou a fazer parte do planejamento familiar, e a vasectomia deixou de ser mito. 

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Essa realidade é mais evidente na Região Centro-Oeste, onde a queda da laqueadura e o aumento da vasectomia ocorrem de forma mais expressiva do que no restante do País.

A região Norte é a que mais concentra brasileiras que recorrem à laqueadura como método contraceptivo. 

Uma pesquisa realizada na Universidade de Turim, na Itália, comparou os dois países e mostrou que no Brasil (segundo dados da Unicamp) cerca de 40% das mulheres em idade fértil já se submeteram à laqueadura, enquanto que na Itália esse índice não chega a 1%. 

Apesar de ser uma cirurgia, a ligadura das trompas costuma ser um procedimento seguro e com baixas taxas de complicações mas que precisa de ponderação e cautela na tomada de decisão.

A mulher esterilizada está sujeita a danos físicos e psicológicos, ou seja, a síndrome pós-laqueadura caracterizada pela desarmonia do ciclo menstrual (metrorragia, sangramento intermenstrual, “spotting” e amenorréia), dor pélvica (dismenorréia, dispareunia), tensão pré-menstrual e manifestações psicológicas. 

Cerca de 20 a 40% das mulheres submetidas à esterilização tubária apresentam alguma sequela, e a frequência de alterações menstruais após a esterilização varia de 2,5 a 60%. 

Outros eventos pós-laqueadura, raros e discutíveis, como a endometriose, gravidez ectópica e possível associação com risco aumentado para câncer de mama e histerectomia no futuro têm sido descritos e devem ser levados em conta.

A cultura do brasileiro ainda é a de se fazer a laqueadura, mas a cirurgia é considerada definitiva e deve ser recomendada como última opção, lembrando que são as jovens com menos de 30 anos que se arrependem com mais frequência.

Importante ainda lembrar dos benefícios da contracepção oral, como o controle do ciclo menstrual, a melhora da cólica menstrual, a diminuição do fluxo menstrual, a diminuição das alterações funcionais benignas da mama (AFBM), a diminuição da TPM, a proteção contra câncer de ovário, endométrio e intestino, a diminuição dos cistos funcionais do ovário, a proteção contra desenvolvimento da endometriose e dos miomas e a melhora da pele (acne e hirsutismo).

Leia também: Espermograma: exame indolor que aterroriza muita gente.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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Inseminação caseira, o barato que pode sair caro

Inseminação caseira, o barato que pode sair caro

Inseminação caseira, o barato que pode sair caro

A inseminação caseira, colocação de sêmem intravaginal ou intra útero sem ajuda especializada pode  trazer riscos à saúde além de problemas legais.

A inseminação é um ato médico e por isso deve ser indicada e realizada por médicos.

A infertilidade (dificuldade para engravidar após um ano de coito desprotegido) é um problema que atinge muitos casais e por isso, muitas pessoas buscam ajuda para resolver esse problema e conseguir ter o tão sonhado filho.

Apesar dos grandes avanços, a Reprodução Assistida ainda não é acessível apesar de existir centenas de centros especializados no Brasil regulamentados e fiscalizados pela Anvisa (RDC).

Muitas pessoas confundem inseminação artificial (IA) com fertilização “in vitro” (FIV).

A principal diferença entre fertilização in vitro e inseminação artificial é o local onde ocorre a fertilização, ou seja, enquanto na IA a fertilização é intrauterina, ou seja, o sêmen será introduzido no útero da mulher por meio de um cateter no dia de ovulação, a FIV é realizada em laboratório controlado e só depois o embrião é transferido para o corpo da mãe. 

Quanto custa fazer inseminação artificial?

Em média, o valor para o processo de Inseminação Artificial, sem os medicamentos, fica entre R$ 2.500 e R$ 3.500 podendo chegar a 5000,00 com a medicação.

Os custos para aquisição de espermas selecionados e testados com segurança e informações individualizadas em empresas especializadas pode chegar a 3000,00 fora as despesas com o transporte adequado.

Casais homoafetivos formados por mulheres que querem ter filhos, mas não podem pagar pela inseminação artificial, são os que mais buscam o procedimento caseiro no Brasil e no Mundo.

A inseminação caseira é uma forma de engravidar sem sexo ou ajuda de médicos em casa e não em uma clínica especializada.

O casal busca um doador de sêmen, que faz a coleta do esperma que é colocado em uma seringa sem nenhum preparo e injetado na vagina (ou no colo do útero) pela mulher que deseja engravidar.

Desde 2012 através da portaria 3.149 o SUS oferece o programa de reprodução assistida por meio de IA ou por FIV.

Casais sem filhos que não conseguem engravidar por algum motivo podem fazer a fertilização in vitro pelo SUS, mas é importante salientar que conseguir fazer o tratamento pelo SUS costuma ser bem complicado e demorado.

Em média, são quatro anos de fila de espera e ainda precisam arcar com os custos da medicação em alguns casos que pode passar de 5000,00.

Infelizmente, de todas as clínicas privadas no Brasil, apenas 15 parecem atender pelo Sistema Único de Saúde estando localizadas em poucas cidades como Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Ribeirão Preto e Santo André.

O SUS cobre fertilização in vitro?

Para conseguir a FIV pelo SUS é necessário ter recebido o diagnóstico de infertilidade depois de estar tentando engravidar pelo método natural durante dois anos.

As principais indicações de IA são a impossibilidade de se realizar o coito (relação sexual), homens com problemas leves no espermas, mulheres com problemas cervicais (colo do útero) e mulheres jovens com infertilidade sem causa aparente.

A inseminação pode ser realizada em conjunto com um estímulo ovariano (indutores da ovulação) de baixo custo e riscos, desde que a paciente apresente trompas pérvias e seja monitorizada adequadamente.

Alguns casais que buscam formas de engravidar ainda têm dúvidas sobre a real importância da fertilização e desconhecem os procedimentos disponíveis de reprodução humana assistida executados por clínicas sérias e seguras. 

Percebe-se um crescimento  impulsionado pela crise econômica e pelo modismo das  redes sociais com comunidades no Facebook , grupos no WhatsApp e até contas no TikTok e no Instagram criadas tanto por doadores de sêmen quanto por mulheres que tiveram seus filhos por inseminação caseira. 

Infelizmente as redes sociais e a globalização podem acabar banalizando certos procedimentos médicos como neste caso da IA, onde tutoriais, vídeos e até ajuda on-line tentam ensinar mulheres sem se preocupar com as potenciais repercussões negativas.

Quais são os riscos da auto-fertilização

Os riscos que envolvem a prática da auto-fertilização são ignorados pelos meios de comunicação, ameaçando gravemente a saúde da mulher e do feto. 

Muitos doadores ilegais de esperma, aproveitam do momento frágil, principalmente quando são casais homoafetivos de mulheres, para ter relação sexual com uma das parceiras. 

Fora o claro perigo de contaminação de doenças (IST – antes conhecidas como DSTs), ainda há a violação do corpo feminino.

Outro equívoco são as vendas dos kits, que podem ser compostos por esperma doado ilegalmente, seringas, potes de coleta e outros. 

Além da incerteza da proveniência dos materiais contidos nesses conjuntos, sem esterilização ou prévia análise, ainda existe uma grande possibilidade do material espermático ser inválido. 

Os espermatozóides têm tempo de sobrevivência e manutenção de sua capacidade de fertilização, sendo ideal trabalhar com ele a fresco.

Sem considerar a má qualidade do esperma, ainda seria necessário a preparação do corpo feminino, através do acompanhamento com médico especialista. 

Mas o maior problema desses procedimentos caseiros não é a ineficiência e sim o alto risco à saúde da mulher. 

Sem um profissional especializado para realizar o manejo da inseminação artificial (IA ou IIU), pode ocorrer a perfuração ou ferimento no canal vaginal. 

Além da contaminação por infecção, devido aos instrumentos e ambiente insalubres, pode se agravar a proliferação de microorganismos (fungos, bactérias, vírus e amebas), quando a mulher apresenta algum desequilíbrio ou variação no PH.

O alto risco da mulher  adquirir Infecções Sexualmente Transmissíveis (antes conhecidas como DSTs) que podem ser transmitidas para o bebê  e causar riscos irreversíveis ao feto. 

A auto-inseminação pode sair muito cara, afetando a mulher com doenças e infecções graves como:

  • Sífilis;
  • HIV 1; HIV 2;
  • Hepatite B; Hepatite C;
  • HTLV I e II;
  • Chlamydia trachomatis; Ureaplasma urealyticum; Mycoplasma hominis; Neisseria gonorrhoeae
  • Bactérias aeróbias

Quais são os testes para a FIV e IA?

Para a seleção de doadores em clínicas especializadas as pacientes devem ser realizados testes laboratoriais para

  1. Sífilis;
  2. Hepatite B (HBsAg e anti-HBc); Hepatite C (anti-HCV);
  3. HIV 1 e HIV 2;
  4. HTLV I e II,
  5. e Zica virus e sorologias  para Clamídia e Gonococo.

O tema parece ter chegado à Justiça nos últimos meses e tribunais em várias partes do Brasil divulgaram decisões sobre o registro de bebês nascidos por meio da inseminação feita em casa, sem relação sexual. 

A inseminação caseira não é amparada por nenhuma legislação no Brasil, mas não há, portanto, regra que proíba a prática. 

Os acordos são feitos em conversas informais ou, em alguns casos, pela assinatura de termos de compromisso em papel, sem validade jurídica.

Já a cobrança pelo material genético é vetada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). 

Homens que fazem a doação afirmam só pedir auxílio com custos do deslocamento ou exames solicitados pelos casais antes da inseminação, como testes de HIV e outras DSTs.

Justamente por não estar prevista em nenhuma norma, a inseminação caseira tem sido debatida na Justiça. 

Quando o casal que fez a inseminação caseira são de duas mulheres, cria-se um imbróglio no cartório.

Uma regra do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determina a apresentação de laudo da clínica de fertilização que não existe nos casos de inseminação caseira obrigando a entrada com ação para conseguir a dupla maternidade, que acaba gerando custos.

Além do risco para saúde da mulher, há possibilidade de discordâncias e litígios entre os envolvidos. A criança poderá requerer a paternidade do doador se a inseminação for caseira ou vice-versa.

Em procedimentos em clínicas, é resguardado o anonimato do doador do sêmen usado na fertilização.

Pela falta de controle, há ainda discussões sobre a possibilidade de que filhos do mesmo doador se relacionem no futuro, sem saber que são irmãos por parte de pai.

Por esta razão o número de doações por doador depende do número de habitantes de cada região.

Costumam dizer que sonhar não tem preço quando na verdade alguns sonhos podem custar bem caro e levar pessoas a tomar medidas desesperadas.

A solução deve partir do poder público com medidas capazes de aumentar o acesso aos tratamentos de reprodução assistida.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe.

Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

Siga o Centro Avançado em Endometriose nas redes sociais para ver informações e dicas sobre a saúde da mulher.

Infertilidade: Tratamento para todos

Infertilidade: Tratamento para todos

O sonho de se ter um filho não pode acabar

Infertilidade, tratamento para todos

A fertilidade é um direito de todos apesar de alguns tratamentos de infertilidade serem para poucos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhece junho como o mês de conscientização sobre a infertilidade em todo o planeta.

De acordo com ela, a infertilidade é definida como a incapacidade de engravidar após um ano de relação sexual desprotegida, condição que afeta mais a população de países de baixa e média renda. 

A infertilidade não se trata de uma mera condição em que uma pessoa não consegue, naturalmente, gerar um filho, mas sim de uma doença que, inclusive, é reconhecida pela OMS.

Atualmente, é estimado que cerca de 35% dos casos de infertilidade estão relacionados à mulher, cerca de 35% estão relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% são provocados por causas desconhecidas. 

A dificuldade para realizar o sonho da gravidez deve ser considerada um problema do casal, embora seja avaliado de forma individualizada!

Entre as principais causas ginecológicas estão a endometriose, a infecção pélvica,  as menstruações irregulares,  a síndrome dos ovários policísticos, entre outros.

Atualmente, a idade da mulher é um dos principais fatores associados à dificuldade de gravidez, uma vez que o avançar da idade (principalmente após os 35 anos) faz com que a quantidade e qualidade dos óvulos diminuam progressivamente, resultando em menores chances de gravidez e aumentando os riscos de aborto e doenças genéticas.

De acordo com dados de 2019, da Associação Brasileira de Reprodução Assistida, a infertilidade conjugal afeta de 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva no mundo estimando-se assim entre 50 e 80 milhões de pessoas com mais de oito milhões só no Brasil.

A obtenção de informações seguras com bases científicas relacionadas à saúde reprodutiva e as opções de tratamento para a infertilidade pode evitar que os casais percam a oportunidade de ter seus próprios filhos biológicos ou não.

Infelizmente ainda percebemos casais sendo tachados como estéreis, que é a impossibilidade de um casal gerar filhos, pois o homem ou a mulher (ou ambos) são incapazes de gerar células sexuais ou gametas (não produzem óvulos ou espermatozóides).

Os avanços na reprodução assistida permitiram que muitas destas situações fossem revertidas em infertilidade que é a dificuldade de um casal obter gravidez.

Existem muitas causas de infertilidade e por isso os tratamentos são divididos em de baixa complexidade, onde é preciso apenas um ajuste de hábitos através de dieta para perder peso, controle de doenças crônicas (resistência a insulina, problemas de tireóide, alterações da prolactina,… ) e de alta complexidade onde é preciso um tratamento mais complexo como a fertilização in vitro podendo chegar até a doação de óvulos ou espermatozóides. 

A reprodução assistida é capaz de aumentar as taxas de gestação em 2 a 3 vezes dependendo do problema, da idade da paciente e da técnica utilizada.

A infertilidade é listada na CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, sob os seguintes códigos N46 – Infertilidade Masculina; N97– Infertilidade Feminina) mas não é reconhecida pelas operadoras de planos de saúde que se negam em custear os tratamentos de reprodução assistida  mesmo após a edição da lei 11.935 de 2009, que incluiu o planejamento familiar como caso de cobertura obrigatória pelos planos de saúde.

A jurisprudência nacional encontra-se dividida, tendo precedentes negado a obrigatoriedade da cobertura e precedentes que, ao ver de alguns juristas, entendem ser obrigatória a cobertura dos procedimentos de reprodução assistida pelos planos.

Muitos pacientes que não podem engravidar sem tratamento de reprodução humana assistida lutam para que os planos de saúde e o SUS ofereçam esta opção que deveria ser um direito de todos que ficou restrita a poucos.

Na última quarta-feira (8/6/2022), a 2ª Seção do STJ decidiu que a lista de referência mínima preparada pela ANS para os planos de saúde tem caráter taxativo. Ou seja, as operadoras não têm a obrigação de custear procedimentos que não estejam listados. Em casos excepcionais, no entanto, essa taxatividade pode ser superada.

O tema é de extrema relevância porque trata-se de um mercado com quase 50 milhões de beneficiários, extremamente judicializado e cujo impacto, ao fim e ao cabo, recai não apenas sobre o direito constitucional à saúde, mas também na pressão sobre o Sistema Único de Saúde.

Na abordagem do casal infertil é preciso contar com a ajuda de uma equipe multidisciplinar com nutricionistas, acupunturistas e, principalmente, psicólogos (obrigatório pela Anvisa) que possam dar suporte no processo de tentativas e até mesmo, nos casos em que não haja sucesso no tratamento, encontre, junto com o casal, o melhor momento de parar e aceitar a situação.

A seguir disponibilizo um texto de autoria da Dr Letícia Campos, psicóloga com quem tenho a honra de trabalhar na Clínica Ovular e que vem se dedicando e ajudando muito alguns casais inférteis.

“Lidar com a infertilidade é uma montanha russa emocional! Por mais preparado e amparado que você esteja, é um processo cheio de expectativas e angústias.  

Mas olha, você já parou para pensar o porquê de você está lidando com a infertilidade e não com a esterilidade? A diferença entre eles é que na infertilidade há chances diminuídas de conseguir engravidar, enquanto no caso da esterilidade, isso significa a impossibilidade de gerar vida nesse corpo.

Por um outro diagnóstico do destino, o resultado negativo para sua expectativa de gerar filhos poderia ser taxativo; mas não… a vida está te convidando para uma ousada caminhada com destino incerto! 

Para além da chance de ter filhos, de que forma essa jornada da infertilidade está modificando sua vivência? Qual impacto isso tem causado nos seus relacionamentos? O que você descobriu sobre si mesmo que talvez nunca tenha notado?

Sabe, na maioria das vezes, a gente realmente não é capaz de entender qual a razão do sofrimento que temos vivido, enquanto estamos passando por ele e isso nos causa extrema angústia. Mas a verdade é que somos capazes de suportar muito mais adversidades do que imaginamos, especialmente quando nos concentramos em buscar o propósito de cada uma das nossas vivências.  

Espero que pensar sobre isso te desperte coragem! Coragem para enfrentar a sua difícil jornada e para renunciar ao controle dos planos que você traçou para si mesmo. 

Mas que isso nunca represente para você, perder a esperança no seu sonho de gerar vida, apenas que te permita se abrir pra viver intensamente os inesperados aprendizados que essa experiência pode te proporcionar”.

Tenho certeza que dias melhores virão e que vocês casais tentantes não estão sozinhos!

Leia também: Pobreza menstrual e a demanda por dignidade

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com

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