Prevenção da caramelização do cérebro pelo controle de insulina e glicose
(foto: pexels)
No cérebro, aumento ou resistência à insulina têm sido chamados de diabetes cerebral ou diabetes tipo 3, capaz de provocar danos cerebrais e demência
A insulina tem diversas funções no organismo, inclusive no cérebro, onde o seu aumento ou a sua resistência têm sido chamados de diabetes cerebral ou diabetes tipo 3, capaz de provocar danos cerebrais e demência.
Os possíveis mecanismos através dos quais estes riscos são maiores incluem os efeitos da hiperinsulinemia periférica na memória, inflamação do SNC, e regulação do peptídeo beta-amilóide.
A insulina, que nos tecidos muscular e adiposo ajuda as células a armazenar carboidratos e gorduras, no cérebro, age como regulador do metabolismo da glicose, influenciando diretamente na neurotransmissão, na aprendizagem, na memória e na neuroproteção.
A insulina é o hormônio secretado pelo pâncreas, com importante função no metabolismo dos carboidratos, ou seja, no controle da glicose (taxa de açúcar) no sangue.
Comemoramos 100 anos da descoberta da insulina em 1921 por Frederick Banting e Charles Best, no laboratório do professor de fisiologia John J. R. MacLeod, durante experimentos que tinham como objetivo o isolamento da secreção interna do pâncreas.
A insulina tem fama de ser uma grande vilã do ganho de peso porque o hormônio promove o estoque de gordura corporal, especialmente na região abdominal, uma vez que ela reduz a produção de glicose pelo fígado e aumenta a captação desse hormônio nos tecidos adiposo e muscular.
Os valores de referência de insulina dependem do cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal), que avalia o peso em relação à altura do indivíduo.
Os picos de insulina nada mais são do que um aumento na liberação da insulina, na tentativa do organismo de tentar baixar o alto índice glicêmico na corrente sanguínea. Com o passar do tempo, o pâncreas, responsável pela produção do hormônio, acaba entrando em exaustão.
Em outros casos, o organismo desenvolve uma resistência insulínica, e não usa mais o hormônio da forma como deveria, fazendo com que o açúcar no sangue continue alto, mesmo depois de algum tempo que o alimento foi consumido.
Por analogia, consideramos a insulina como se fosse uma ‘chave’ que se liga à ‘fechadura’ existente nas membranas das células, os receptores celulares de insulina, fazendo com que sejam abertas passagens para a entrada da glicose nas mesmas.
Diante de elevados índices de glicose no sangue, podemos precisar de várias chaves (insulina) para abrir uma fechadura devido a uma resistência à insulina.
Se existir uma dificuldade em aumentar a produção, teremos um aumento da glicose no sangue (diabetes) além de outros problemas para a mulher.
A diabetes é uma doença cada dia mais comum entre a população mundial. Segundo dados da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), ela já afeta mais de 12 milhões de brasileiros com uma porcentagem grande deles sem o diagnóstico.
Além do diabetes, é possível que a pessoa também desenvolva hipertensão, dislipidemias (níveis altos de colesterol e triglicerídeos no sangue), esteatosis hepática (acúmulo de gordura no fígado), síndrome do ovário policístico, obesidade, alguns tipos de câncer (como o câncer de próstata), doenças cardiovasculares e respiratórias.
Nos dias de hoje, a genética é um fator muito importante a ser considerado no aparecimento das doenças, mas a epigenética também tem desempenhado papel importante.
Epigenética é a área da biologia que estuda mudanças no fenótipo que não são causadas por alterações na sequência de DNA que se perpetuam nas divisões celulares, meióticas e mitóticas. É denominado um caráter epigenético quando o fenótipo é alterado por tais mudanças.
O nosso comportamento, o ambiente em que vivemos e nossos hábitos representam estas mudanças e podem nos proteger do aparecimento de doenças.
A resistência à insulina está relacionada ao aumento principalmente da gordura visceral. Este excesso de gordura, por sua vez, está associado a prejuízos nas ações da insulina, pois a gordura corporal produz substâncias que conseguem influenciar negativamente a transmissão do sinal da insulina, que provoca um aumento da insulina, gerando um ciclo vicioso.
O que fazer para manter o nível adequado de insulina no organismo?
Manter-se ativo fisicamente, evitando sempre o sobrepeso e obesidade, pode levar à diminuição e controle da resistência à insulina.
A atividade física aeróbica permite a passagem da glicose para dentro da célula sem que a insulina seja necessária, economizando insulina.
Além da prática regular de atividades físicas, uma alimentação adequada, sem excesso de carboidratos e gorduras, são as principais estratégias para evitar desequilíbrios nos valores da insulina.
O consumo em excesso de alimentos, principalmente carboidratos de alto índice glicêmico, como doces e produtos feitos com farinhas refinadas, geram uma super estimulação do pâncreas, que libera quantidades enormes de insulina em resposta à rápida entrada de açúcar no sangue.
Esse processo é conhecido como pico de insulina. Este pico depende do índice glicêmico de cada alimento que variam desde doces, pães e massas, até legumes e frutas.
Quando o alimento tem índice glicêmico igual ou maior de 70, deve ser consumido em pequenas quantidades e em eventos esporádicos, razão pela qual acaba sendo proibido para pacientes diabéticos.
Como exemplo de alimentos com elevado índice glicêmico, em porções de 100g temos o, mel (104), milho (98), barras de cereais em geral (94), cuscuz (93), beterraba (88), bolacha de arroz (87), banana (83), grãos de soja (83), cereal de milho (81), manga (80), pipoca (79), batata (78), bebidas isotônicas (78), melancia (76), pão branco (75), abóbora (75), suco de laranja (74), bolacha de sal (74), arroz branco (73) e a batata-doce média (70).
Estes picos de insulina frequentes podem resultar em uma condição chamada de resistência insulínica, que pode causar uma vasoconstrição. Essa vasoconstrição ocorre quando os vasos sanguíneos se contraem, a fim de evitar a perda de calor em excesso, o que retarda a atividade metabólica do organismo.
Além de causar o pico de insulina no organismo, esses alimentos proporcionam uma sensação de saciedade curta, fazendo com que você sinta fome mais rápido.
A alimentação é um dos principais fatores que influenciam os níveis de açúcar no sangue. Em outras palavras, quanto mais alimentos ricos em açúcares e carboidratos consumirmos, mais recorrentes serão os episódios de pico de insulina.
Como resultado, o cérebro entende que você precisa alimentar-se novamente porque está sem energia, fazendo com que você sinta fome, após meia hora da sua última refeição.
Além disso, é importante evitar dieta com excesso de sódio (sal), não fumar, não fazer uso excessivo de álcool e ter um sono reparador.
Adultos com hiperglicemia crônica (hemoglobina glicada mais alta) apresentam um maior risco de demência vascular e também de demência não vascular, como doença de Alzheimer.
Caracteriza-se demência como um decréscimo cognitivo comparado à cognição prévia do indivíduo. É uma degeneração crônica e, geralmente, irreversível.
Os principais sintomas das demências são perda de memória, dificuldade de localização temporal e espacial, dificuldade de atenção e concentração e distúrbios neuropsíquicos, como depressão, agitação e agressividade. Os tipos de demência mais associados à diabetes mellitus são doença de Alzheimer e demência vascular.
Vários autores, como Crane et al., Grodstein et al., Mayeda et al., Biessels et al., Hamed et al., Pereira et al., Matioli et al., através de várias publicações mostraram que os níveis glicêmicos, a idade acima de 65 anos, o pré diabetes e o diabetes tipo 2 e a neuroinflamação têm uma relação direta com o surgimento de demências.
Recentemente, viu-se crescer a menção do termo “diabetes tipo 3″ou “diabetes cerebral”, uma vez que foi constatado que cérebros de pacientes com Alzheimer têm menor expressão de insulina e receptores neuronais de insulina, comparados a indivíduos da mesma idade e sem diabetes.
A doença de Alzheimer foi descrita em 1906 por um psiquiatra alemão com o sobrenome Alzheimer, que dá o nome da doença. É infelizmente uma doença degenerativa e sem cura até o momento.
Sua principal característica é a perda de memória e atenção, além da perda de outras funções cognitivas, como comunicação verbal e escrita e a orientação.
A Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ), estima que no Brasil há cerca de 1,2 milhões de pessoas vivendo com a doença, mas muitas delas ainda sem o diagnóstico.
Uma das coisas que protegem, seria a alimentação. Para isso eles propõem a dieta mediterrânea como solução.
O que acontece no cérebro de uma pessoa com Alzheimer?
O cérebro de um paciente com Alzheimer tem proteínas chamadas beta-amilóides acumuladas, que juntas formam placas. Com o passar do tempo, pequenas estruturas vão se descolar dessas placas. Essas pequenas estruturas atacam e intoxicam os neurônios, que perdem sua capacidade de sinapse, ou seja, sua capacidade de se comunicar e, como sintoma principal, a tão temida perda de memória.
O que os pesquisadores concluíram é que o Alzheimer faz com que o cérebro também fique resistente à insulina e, assim, o órgão tem dificuldade de absorver a glicose.
O cérebro é um órgão formado principalmente por tecido nervoso: células da glia e neurônios. O tecido nervoso utiliza basicamente como substrato energético a glicose, uma falha na captação desse carboidrato provoca alterações na função dos neurônios.
Acreditava-se que o cérebro, juntamente com as hemácias, a mucosa intestinal e os túbulos renais, não necessitava da insulina para absorver a glicose.
No entanto, estudos na década de 2000 demonstraram a necessidade da insulina no cérebro para que o mesmo absorva adequadamente a glicose e a utilize como proteção das sinapses neurais.
A glicose atravessa a barreira hematoencefálica por difusão facilitada, através de transportadores chamados de Proteínas Transportadoras de Glicose (GLUTs).
Tais transportadores, ao contrário do que se pensava antes, são sensíveis à insulina e seu funcionamento depende diretamente da ação insulínica.
A glicose tem outros efeitos sobre as funções do sistema nervoso, como a modulação do ciclo de apetite e saciedade, função reprodutiva, liberação de neurotransmissores, plasticidade sináptica e sobrevivência neuronal.
Isso contribui para disfunção cognitiva, redução da memória, aumento da atividade inflamatória no sistema nervoso central, ruptura do eixo adrenal hipotálamo-hipófise e, através da formação de placas senis, favorece o desenvolvimento da doença de Alzheimer (DA).
Já se relata a existência de um mecanismo de proteção natural que protege as sinapses contra a deterioração causada pelos ADDLs, e tem como principal responsável a insulina, que causa uma redução acentuada da ligação de ADDLs patogênicos nos receptores de insulina.
Diante dessas descobertas e da relação direta entre a resistência insulínica e a DA, alguns trabalhos apontam para a existência de um novo tipo de diabetes.
A diabetes tipo 3 é um termo recente que pesquisadores no mundo todo estão usando para se referir a resistência à insulina no cérebro.
Esse assunto é muito novo, sendo assim é importante dizer que ainda não é oficialmente reconhecido na comunidade médica.
O açúcar gera um processo chamado glicação (processo que une uma molécula de glicose com uma de proteína) e inflamação e que seria capaz de despertar o Alzheimer em pessoas predispostas geneticamente.
As clássicas complicações do diabetes, como as neuropatias periféricas ou as retinopatias, podem estar relacionadas.
Manter os exames de sangue em dia, fazer consultas periódicas e buscar tratamento em caso de sintomas, sejam eles metabólicos, hormonais e neurológicos, é sempre um passo fundamental na prevenção e controle de diversas doenças.
Uma dessas medidas é o monitoramento glicêmico, o qual pode ser feito pela glicemia de jejum em laboratório e pela glicemia capilar em casa. Porém, a forma mais fidedigna de acompanhamento, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), é a hemoglobina glicada, que mostra os valores glicêmicos dos últimos 100 dias, em média.
A SBD define as seguintes metas glicêmicas para adultos com diabetes mellitus:
Pré-prandial: < 100 mg/dL, pós-prandial: < 160 mg/dL e hemoglobina glicada: < 7,0%
O tratamento preconizado envolve mudanças no estilo de vida, como dieta balanceada com restrição de açúcar e redução de carboidratos, consumo de gorduras, como ômega 3, e prática regular de atividade física, pelo menos 150 minutos por semana (50 minutos de atividade 3 vezes por semana).
Existem medicamentos que impulsionam e aceleram o tratamento da resistência à insulina. Seu uso deve ser recomendado e acompanhado pelo médico sempre.
O tratamento medicamentoso de demências tem poucas opções e se mantém ineficaz. As principais opções terapêuticas são os inibidores de colinesterase e antagonista de memantina.
Novas estratégias terapêuticas surgem na literatura científica e na indústria farmacêutica, como os medicamentos à base de cannabis que, apesar de terem efeitos animadores e serem permitidos pela ANVISA, ainda são pouco prescritos e pouco acessíveis no Brasil.
Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.
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