Congestão pélvica, a inimiga número 1 das mulheres
Varizes (congestão pélvica), a inimiga número 1 das mulheres
É impossível ignorar como o estilo de vida da mulher moderna provoca danos à saúde feminina, gerando problemas venosos que são exclusivos da mulher
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 70% dos adultos brasileiros apresentam algum tipo de varizes que, com o passar do tempo, pode ter uma evolução no quadro com o acúmulo de sangue não só nas pernas, mas na pelve podendo gerar complicações como dores, inchaço e trombose venosa.
O sistema circulatório ou cardiovascular é formado pelo coração e vasos sanguíneos sendo responsável pelo transporte de nutrientes e oxigênio para as diversas partes do corpo.
Os vasos sanguíneos são tubos do sistema circulatório, distribuídos por todo o corpo onde circula o sangue. São formados por uma rede de artérias e veias que se ramificam formando os capilares.
As artérias são vasos do sistema circulatório, que saem do coração e transportam o sangue para as outras partes do corpo. A parede da artéria é espessa, formada de tecido muscular e elástico, que suporta a pressão do sangue.
As veias são vasos do sistema circulatório com as paredes mais finas que as das artérias. As veias possuem válvulas cuja finalidade é impedir o retorno do sangue aos pés pela ação da gravidade. Às vezes, essas válvulas não funcionam bem e o sangue fica retido nas veias provocando deformação e inchaço.
Varizes são veias tortuosas e dilatadas que surgem pelo adoecimento dos vasos. Ao contrário do que se possa pensar, as varizes das pernas não são apenas um problema estético. A sua presença indica uma veia doente, sendo muitas vezes o primeiro sinal de uma insuficiência venosa crônica.
Os tipos de varizes (congestão pélvica)
As varizes são mais grossas do que os derrames, medindo mais de 3mm de diâmetro. Os derrames, também conhecidos por “vasinhos” (o nome técnico é telangiectasias), são vasos sanguíneos finos arroxeados e azulados, medindo menos do que 1 mm de largura. As microvarizes ou varizes reticulares são aquelas que medem entre 1 e 3 mm de diâmetro.
O fator hormonal é um fator desencadeante para a doença venosa e ela é, sim, mais presente em mulheres devido a essas variações hormonais ao longo da vida (gravidez) ou o maior uso de anticoncepcionais pela mulher moderna.
Uma coisa é fato: existe uma associação entre varizes e anticoncepcional. Cuidado com os mitos desenvolvidos nos consultórios, pois é possível que essa relação tenha se tornado um tanto equivocada.
Primeiramente, o anticoncepcional é um fator desencadeante das varizes em decorrência dos hormônios presentes em sua fórmula: o estrogênio e a progesterona. Cada um provoca um efeito nas estruturas envolvidas na circulação e no fluxo do sangue.
O estrogênio altera as paredes das veias e danifica as válvulas responsáveis pelo controle da passagem do sangue dentro delas. Por sua vez, a progesterona aumenta a dilatação das veias e o fluxo de sangue que passa por ela.
Além das mulheres, as pessoas mais propensas a ter varizes são idosos, pessoas com sobrepeso, pessoas que trabalham muito tempo de pé ou excessivamente sentadas, usuários de terapias hormonais, ou mulheres que já tiveram várias gestações.
Embora o fator genético exista, mudar alguns hábitos como o sedentarismo, tabagismo e alcoolismo (pois o álcool alarga as veias) pode influenciar positivamente, evitando o surgimento ou agravo das varizes em pessoas com predisposição genética.
No entanto, a maioria das varizes localizam-se habitualmente nos membros inferiores (nas pernas), podendo aparecer apenas numa perna ou nas duas.
Cerca de 70% das varizes que ocorrem são decorrentes da veia grande Safena, que se estende da parte interna do tornozelo até a virilha explicando a ocorrência de varizes nos pés, nas pernas, nas coxas e nas virilhas.
Por sua vez, é mais raro o surgimento de varizes no ânus (varizes hemorroidárias que causam principalmente dor e sangramento na região e na pelve (varizes pélvicas que surgem na vulva, na vagina, úteros, ovário e glúteos).
São causa de sensação de peso na região pélvica, de dor durante e após a relação sexual, incontinência urinária e aumento de menstruação, podendo ainda estar relacionadas secundariamente a uma diminuição do desejo sexual, depressão e perda de autoestima.
Embora tenhamos especialidades médicas (cirurgia cardiovascular e angiologia) para tratamento específico dos problemas circulatórios, esses problemas acabam acometendo mais as mulheres, sendo importante uma abordagem multidisciplinar com ginecologista e fisioterapeuta, por exemplo.
PARA ALGUMAS MULHERES, SEXO NÃO É SINÔNIMO DE PRAZER, MAS, SIM, DE DOR.
A causa do problema pode ser as varizes pélvicas próximas ao útero, ovários e trompas, que atrapalham o retorno venoso, geram inflamação e causam dor intensa. O quadro pode causar dor durante e após o ato sexual intensificando-se próximo ao período menstrual.
Muitas vezes não sabemos se a anorgasmia (incapacidade de chegar ao orgasmo) leva à congestão pélvica ou a congestão pélvica leva à dor e anorgasmia.
Embora o orgasmo não seja fundamental, ele é importante pois no período de excitação sexual temos uma aumento do aporte de sangue para a pelve com o seu esvaziamento após o orgasmo.
Isto é importante pois, dependendo do tipo de anorgasmia, o estímulo à masturbação pode ser o suficiente para amenizar ou melhorar o problema.
Classificamos a anorgasmia em primária se o paciente nunca teve a experiência de sentir um. Secundária, o paciente costumava sentir orgasmos, mas parou de ter. Situacional refere-se ao orgasmo que não é obtido em algumas situações, como durante o sexo vaginal ou com um determinado parceiro, mas ocorre normalmente durante a masturbação ou sexo oral. No generalizado, temos uma incapacidade total de sentir orgasmo em qualquer situação.
A congestão pélvica é uma causa comum de dor pélvica crónica. A dor localiza-se na porção inferior do abdômen e tem uma duração superior a 6 meses, associado a sintomas que interferem na qualidade de vida com manifestação exclusiva em mulheres.
A maioria das mulheres com síndrome de congestão pélvica possuem idades entre 20 e 50 anos e múltiplas gestações. É comum encontrar congestão em nuligestas (sem filhos) com baixa porcentagem de gordura corporal decorrente de excesso de atividade física (bailarinas, maratonistas, triatletas,…).
Durante a gravidez, o corpo da mãe produz sangue a mais para sustentar dois organismos associado à compressão mecânica dos vasos pelo útero após 20 semanas, provocando dilatação das veias nas pernas, pelve (vulva, vagina, útero e anexo) e reto (hemorroidas).
As veias ovarianas têm dificuldade de recuperar o seu tamanho normal depois da gravidez, uma vez que na gestação elas aumentam o seu diâmetro em até 60 vezes.
A veia ovariana ou gonadal esquerda desemboca num ângulo de 90 graus na veia renal à esquerda, o que favorece maior refluxo à esquerda em relação à direita que desemboca obliquamente na veia cava.
Por isso a mulher tem mais varizes à esquerda. Apesar de muitas pacientes apresentar este quadro e serem assintomáticas, podemos relacionar alguns sintomas comuns, que juntos são chamados de Síndrome da Congestão Pélvica.
Sintomas da síndrome da congestão pélvica
1- Dor crônica que piora ao permanecer em pé ou fazer valsalva (esforço abdominal).
2- Dor durante e após a relação sexual (horas ou dias).
3- Dor nas costas.
4- Frequência e urgência urinária na ausência de infecção de urina.
5- Cólica menstrual secundária lateral ou central.
6- Distúrbios menstruais.
7- Sintomas gastrointestinais e distensão abdominal que não se enquadram no diagnóstico de cólon irritável.
8- Fadiga (cansaço) crônica.
9- Algumas mulheres, às vezes, têm secreção clara abundante ou líquida saindo pela vagina.
Como é realizado o diagnóstico da síndrome da congestão pélvica
O diagnóstico é feito mediante a história clínica da paciente associado ao estudo de eco-doppler (ultrassom vascular) e ultrassom pélvico/endovaginal. Este exame ajuda a definir qual a intervenção mais adequada.
Existem dois sinais patognomônicos que ajudam na detecção. No toque vaginal é possível perceber os ovários muito sensíveis a mobilização com dor à movimentação do colo do útero.
Alguns especialistas recomendam exames complementares como a venografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e venografia com Ressonância magnética.
O médico especialista depois de uma avaliação rigorosa irá selecionar qual o melhor tratamento (cirúrgicos e não cirúrgicos) para cada paciente considerando os diferentes tipos de varizes.
Antes mesmo de pensar em remédio para varizes ou em fazer cirurgia de varizes, é importante pensar em algumas mudanças de hábitos para evitar o desenvolvimento delas e/ou recidivas no futuro.
A obesidade também pode prejudicar o sistema circulatório por conta da elevada pressão exercida pela gordura abdominal.
Uso de meias elásticas de compressão e o uso de água quente diminuem bastante as queixas.
O tratamento da síndrome de congestão pélvica inclui altas doses de Acetato de Medroxiprogesterona, AINEs (anti-inflamatório) e Agonistas do GnRH, prescritos pelo médico responsável.
Pode-se embolizar as varicosidades detectadas durante a venografia com pequenas molas ou um agente embólico após anestesia local ou sedação intravenosa, reduzindo a necessidade de analgésicos após o procedimento em até 80%.
O tratamento cirúrgico das varizes pélvicas pode consistir em ligadura de veias, ooforectomia (retirar o ovário) ou histerectomia (cirurgia que remove o útero). O risco e o benefício dessas cirurgias depende de vários fatores, como a idade e a paridade.
A cirurgia das veias das pernas (flebectomia), consiste na remoção de uma ou mais veias através de pequenas incisões (cortes), que geralmente variam de 1mm a 3mm de extensão, dependendo do diâmetro da veia.
Por se tratar de um problema genético (hereditário), influenciado pela epigenética, não existem medidas isoladas eficazes sendo necessário um conjunto de medidas para alcançar o sucesso na prevenção e no tratamento.
Gustavo Safe, médico especialista em endometriose.
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