A Endometriose desperta inúmeras perguntas, recebemos várias todos os dias. No último mês apresentamos algumas no nosso instagram, as mais comuns e algumas até que geraram curiosidade dos seguidores. 

Nesse post apresentamos todas essas perguntas com as respostas dadas por nossa equipe. 

Ressaltamos sempre que uma equipe especializada deve ser sempre consultada já que cada caso é específico e deve ser tratado como tal.

 

Você sabe o que é Endometriose Intestinal? 

É quando o tecido endometrial (que reveste o Útero internamente) acomete  o intestino, podendo infiltrá-lo, causando aderências entre si e aos órgãos e tecidos vizinhos. Mesmo fora do seu sítio normal, o Útero, este tecido, endométrio, responde aos hormônios, por isso também sangra durante o período menstrual, fazendo com que algumas vezes a portadora apresente sangramento ao evacuar, além de apresentar cólicas fortes e outros tipos de dores incomuns. 

 

Você sabe como é a Cirurgia da Endometriose? 

A cirurgia é feita por Ginecologista Especializado em Videolaparoscopia – Cirúrgica com Técnica Minimamente Invasiva, sendo em casos especiais com o concurso de Coloproctologista e Urologista, visando remover o tecido endometrial que compõe a doença nos mais diversos sítios da cavidade pélvica e abdominal. É uma cirurgia  delicada, sendo a melhor solução para os casos mais graves de Endometriose Infiltrativa Profunda com acometimento importante dos mais diversos órgãos e tecidos. 

 

Você sabe como identificar se tem Endometriose? 

Há vários dados clínicos e/ou sintomas (queixas) que fazem suspeitar de Endometriose, como história familiar de Endometriose (irmã, prima, tia ou mãe), dores frequentes no Abdome ou na Pelve, repetitivas e, às vezes, com períodos de crises agudas, muitas vezes com suspeita de Apendicite, história de ter tido sangramento vaginal no berçário após nascimento (geralmente desconhecido pela própria mãe), primeira menstruação (Menarca) mais cedo antes dos treze anos, cólica menstrual alguma vez que impede ou impediu a pessoa de exercer suas atividades normais, necessitando de maior  medicação, às vezes em hospital, tendo que faltar a uma aula ou ao trabalho e ter que sair mais cedo por causa de dor forte (Dismenorréia D3), menstruações de 5 ou mais dias (Hipermenorréia), corrimento escuro tipo sanguíneo antes de descer o fluxo menstrual normal, diarréia menstrual em portadoras de dificuldades na evacuação (constipação), pontadas anais menstruais, queixas tipo Cistite durante menstruação, cólica tipo renal quando menstruada sem comprovação de cálculo renal e que cede após terminar o fluxo menstrual, dor referida como profunda em certas posições no ato sexual, maior índice de infecções urinárias tipo cistites de repetição, quedas de pressão com relativa frequência ao longo da vida, portadoras de refluxo gastroesofágico, maior incidência de crises de ansiedade e/ou crises de pânico, uso prévio e com certa frequência de tampão vaginal (OB, Tampax) ou relacionamento sexual com relativa frequência quando menstruada (tendência Hematófila), início de atividade sexual precoce, história de uso precoce de pílulas anticoncepcionais com maior efeito contra espinhas, como Diane, Yas, Yasmin, entre outras que tenham efeito antiandrogênico, enfim, queixas que o Médico especializado saberá distinguir e fazer a conexão diagnóstica, entre tantos outros sintomas ou queixas.

Diante do quadro clínico, muitas vezes exuberante, nem sempre os exames de Ultrassom ou Ressonância Nuclear Magnética detectam, fazendo com que  portadoras de Endometriose sofram por longo tempo. Alguns diagnósticos têm atraso de até 10 anos, mas incrivelmente suspeitado pelas próprias pacientes, muitas delas sendo encaminhadas para acompanhamento e tratamentos psíquicos. Mais tarde, com exames de imagem positivos, na maioria dos casos, revelando a doença já mais avançada.

 

Você sabe qual o melhor tratamento para Endometriose?

O tratamento da Endometriose deve ser orientado por Ginecologista especializado, o qual, após uma Anamnese completa, direcionada e especializada, um Exame Físico Próprio e de Exames Complementares, indicará qual a melhor conduta, se Clínica ou Cirúrgica, geralmente ambas, dependendo das queixas da paciente, se Dores e/ou Infertilidade, a Idade, os mais diversos antecedentes, enfim, Multifatorial. A Conduta para uma paciente, não quer dizer que é a mesma para outra mulher. Enfim, cada caso deve ser único. O que pode ser bom para uma paciente, não quer dizer que seja melhor para outra.

Ademais, em casos muito especiais com desejo reprodutivo, pode ser considerada conduta expectante, com adequado controle, sempre individualizando o tratamento. Deve sempre prevalecer o bom senso e um profundo conhecimento da patologia pelo Profissional Médico.

 

Você sabia que é possível engravidar com Endometriose? 

Embora seja mais difícil engravidar com Endometriose em atividade, seja leve ou profunda, é possível. Quando ocorre a gravidez há maior índice de abortamento (63%), história de abortamentos de repetição, ameaças de abortamento e/ou de parto prematuro, maior incidência de Pré-eclâmpsia (pressão alta na gravidez, edemas, perda de albumina na urina, entre outros sintomas), além de outras complicações pouco conhecidas que podem ocorrer durante a gravidez, no parto e no pós-parto, como mostram publicações do Congresso Mundial de Endometriose, mas que podem ser  prevenidas ou adequadamente controladas pelo Médico especializado, com êxito gestacional na maioria dos casos.

 

ciclo menstrual(Foto: Anete Lusina/Pexels)

Você sabe se Endometriose engorda? 

A  Endometriose, como doença não engorda, não obstante possa existir em grande número de mulheres com maior índice de massa corporal e com a relação cintura/quadril desproporcional, muitas vezes devido ao Perfil Psicológico Próprio, cujo alto nível de ansiedade leva a ganho ponderal acima do considerado como ideal. Além de considerável número de portadoras apresentar Síndrome Hiperandrogênica Leve, geralmente herdada do lado paterno, o que causaria maior tendência a ganhar peso e que na maioria dos casos é desconhecida e, até mesmo, negada pelas portadoras, ao negligenciar sintomas próprios, como acne, queda de cabelo, passado de caspa, seborreia evidenciada na testa com oleosidade, hipertricose (pelos no lábio superior ou periareolar), melasma, embora discreto, mas levemente evidente nas áreas laterais da testa e maxilares, bromidrose (cecê axilar), quase sempre negado, geralmente por falta de maior atenção consigo próprias, podem provocar inchaço abdominal e retenção de líquidos, o que acaba provocando uma inflamação nos órgãos em que se encontra, como ovários, bexiga, intestino ou peritônio. Apesar de não haver um grande aumento de peso na maioria das mulheres, pode-se notar um aumento do volume abdominal nos casos mais severos de endometriose.

 

O que causa Endometriose? 

É uma doença herdada geneticamente que, dependendo de vários fatores, leva ao seu desenvolvimento. Considerada como “uma desordem genética poligênica e multifatorial”, portanto, uma doença sistêmica, ou seja, não só localizada na pelve, mas com alterações em vários órgãos e concomitante a várias doenças extra genitais. O fenômeno quase universal da menstruação retrógrada (90%) e a capacidade inerente aos tecidos pélvicos em manter um transplante menstrual, permite-nos considerar que 71% das mulheres em idade menstrual podem apresentar Endometriose. Porém, nem sempre a doença se apresenta como é conhecida, sendo 33% de Endometriose Fenômeno (como chuva é um fenômeno sazonal que acontece no verão e com duração de 3 a 4 meses e depois desaparece); 23% como Epifenômeno (Epi=sobre, acima do Fenômeno), portanto, uma Tempestade com relâmpagos e trovões que, segundo a observação do Médico e da paciente, se o vento leva as nuvens para longe, torna-se uma chuva e tende a desaparecer, mas se o vento traz as nuvens para cima da mulher, o que ocorre em 15% das vezes, quando o raio atinge a mulher, então se transforma em Doença, causando diversos danos, como as mais diversas dores e a Infertilidade, sendo a causa mais comum (30 a 40%) na dificuldade em engravidar.

Além da Genética herdada, múltiplos fatores concorrem para o estabelecimento da doença, como Fatores Imunológicos, Químicos, Enzimáticos, Ambientais e, principalmente, Biológicos, Familiares e Socioculturais, especialmente em mulheres que apresentam um “Perfil Psicológico Próprio”. Os fatores que determinam o grau de menstruação retrógrada são variáveis. Ainda não foi explicado se as alterações imunológicas antecedem a doença, são coincidentes com ela ou resultam dela. 

A interpretação de todos esses achados nos levam a concluir que se trata de uma patogênese Genética, associada às mais variáveis alterações citadas. 

 

Você sabia que a Endometriose pode ir além do Útero? 

A Endometriose do Útero é designada como Adenomiose, ou seja, própria dele. Ocorre quando o endométrio, que normalmente está revestindo a camada interna do útero, se infiltra em sua musculatura, o Miométrio, podendo causar cólicas fortes e menstruações intensas. O que pode levar a anemia, mas também, com maior frequência fora do útero, na forma de implantes superficiais, podendo ser menos agressiva e que se manifesta como lesões pequenas, com várias cores e aspectos (negras, brancas, vermelhas, transparentes tipo gotas de orvalho) e que possuem, em geral, entre 1mm e 3mm. Os implantes se localizam, em sua maior parte, na região pélvica, próxima ao Útero e, em menor incidência, atingem Intestino, Bexiga, Ureter, Umbigo na parede abdominal e da Pelve, em cicatrizes de cesariana ou de cirurgias na parede  abdominal, no Períneo (cicatrizes de parto), podendo também, excepcionalmente, atingir o Diafragma, Pulmão, Pleura, Cérebro e outros locais. Os focos de Endometriose superficial normalmente não provocam alterações anatômicas nos Ovários, Trompas e Útero. 

  • Ovários: além de superficial, pode apresentar cistos preenchidos por líquido achocolatado, tipo menstrual, conhecidos como  Endometriomas ovarianos. Os Endometriomas podem se romper e deixar o líquido do seu interior vazar, causando  dor abdominal súbita e intensa nas portadoras. Muitas vezes confundidos com Apendicite ou Pelviperitonite que, em grande parte são tratados como tal e com cirurgias, geralmente, inadequadas, apesar da melhor intenção do cirurgião, porém com resultados muitas vezes imprevisíveis. Nem sempre a doença ovariana é sintomática, podendo apresentar tamanhos distintos, dependendo da gravidade da doença, variando de um diâmetro de 0,5 cm ou, em casos mais raros, pode alcançar dimensões superiores a 10 cm. 
  • Endometriose profunda: aquela que apresenta lesões de pelo menos 5mm de profundidade e são as mais importantes por se relacionarem com os sintomas mais exuberantes. 

Além das duas principais, a endometriose pode se localizar no: 

Peritônio: camada que reveste internamente o abdome e pelve; 

Região retrocervical: o Útero é dividido em corpo e colo. Retrocervical é a parte atrás do colo uterino, porém na parte interna da pelve. É um local muito comum onde a doença pode se instalar; 

Vagina: o canal da vagina é dividido em três partes: inferior (próximo da entrada da vagina), média e superior (próximo do colo uterino). As lesões de Endometriose podem surgir no terço superior, atrás do colo uterino e mais raramente nos dois terços inferiores;

Septo Reto-vaginal: é um espaço entre Reto e a Vagina, preenchido por tecido, onde lesões infiltrativas comumente ocorrem, causando variadas dores, muitas características de seu acometimento, como pontadas anais menstruais, dor na relação sexual referida à profundidade, entre outras, principalmente pelo acometimento dos Ligamentos Útero-sacros e do Plexo Hipogástrico Inferior, sendo de acometimento frequente ao se tratar de Endometriose Infiltrativa Profunda; 

Intestino: a parte do intestino mais frequentemente acometida pelas lesões  é o Reto-Sigmóide, porção final do intestino grosso que fica em contato próximo ao Útero. No entanto, pode acometer o Apêndice e outras porções intestinais;

Bexiga e ureteres: as lesões podem infiltrar a Bexiga, assim como acometer os Ureteres (canais que levam a urina dos Rins à Bexiga), cujo comprometimento poderá ser responsável por perdas renais, dependendo da gravidade do acometimento;

Diafragma: manifestada com dor no período menstrual cíclica referida no ombro direito;

Pulmonar: muito rara, manifestada por Hemoptises (tosse com sangramento proveniente do Pulmão) nos períodos menstruais.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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