Medicina regenerativa e saúde reprodutiva

A medicina regenerativa (MR) é uma área emergente da medicina com uma atuação diferente da medicina clínica que prioriza o tratamento dos sintomas.

Na MR os fatores de crescimento obtidos a partir do plasma sanguíneo da própria paciente são aplicados no endométrio ou nos ovários com o objetivo de regenerá-los e melhorar os resultados reprodutivos.

A Medicina Regenerativa nasceu no ano de 1997 com o uso do plasma rico em plaquetas (PRP) que é a parte líquida do sangue que contém grande quantidade de plaquetas na cola de fibrina.  

As plaquetas são pequenos fragmentos de células produzidas na medula óssea e tem a função de controlar o sangramento (coagulação) por meio da produção de substâncias (fatores de crescimento e citocinas) e da formação de novos tecidos e vasos sanguíneos.

A partir deste “efeito regenerativo” de tecidos e formação de novos vasos sanguíneos (neovascularização), o PRP passou a ser investigado em diferentes áreas da medicina.

A medicina regenerativa reúne especialistas em áreas médicas como a odontologia, a traumatologia, a oftalmologia, a medicina estética, a cirurgia plástica,  a ortopedia e, mais recentemente, a ginecologia (reprodução humana).

As áreas da biologia, química, ciência da computação, engenharia, genética e robótica também ajudam neste processo de busca de soluções para alguns problemas médicos desafiadores enfrentados pela humanidade na busca da cura e auto regeneração.

O que é medicina regenerativa?

A medicina regenerativa se baseia no emprego de células-tronco com potencial de diferenciação multipotente e/ou produtos biológicos como o PRP.

O uso de células tronco embrionárias possibilita reparar ou substituir células, tecidos ou órgãos danificados por alguma doença, trauma ou problemas congênitos. 

O plasma rico em fatores de crescimento (PRGF), tem uma alta eficácia e segurança, trazendo riscos mínimos para a paciente. 

É um processo autólogo (quando se utiliza tecido ou órgão do próprio indivíduo), que não apresenta problemas de incompatibilidade. 

Trata de uma técnica indolor, rápida, segura e com relativas garantias de sucesso que trazem uma nova esperança para algumas mulheres.

A redução da quantidade de óvulos com o avanço da idade, o endométrio fino e as falhas repetidas no tratamento de reprodução assistida são alguns dos cenários que podem tornar a jornada da mulher tentante longa e desgastante. 

Estes desafios estimulam a ciência a trabalhar constantemente para desenvolver técnicas que possam melhorar os resultados e garantir o nascimento de um bebê!

Vários experimentos com o PRGF vem ganhando espaço na medicina reprodutiva com resultados iniciais promissores, principalmente no tratamento de casos de endométrio refratário (quando não atinge uma espessura necessária para hospedar uma gravidez), falência ovariana prematura e baixa reserva ovariana.

Sabemos que as condições endometriais ideais são necessárias para a implantação do embrião, podendo afetar o resultado de um ciclo de fertilização in vitro (FIV).

O endométrio é a mucosa que recobre a parede interna do útero com o objetivo de fornecer proteção contínua contra patógenos que tenham acesso à cavidade uterina, ao mesmo tempo em que permite a implantação embrionária, um evento único e crucial para a continuação da espécie em mamíferos

Ele é formado por vasos sanguíneos e glândulas que são estimuladas pelos hormônios ovarianos (o estrogênio e a progesterona). Ao longo do ciclo feminino, sua espessura e vascularização passam por alterações. 

Logo após a menstruação o endométrio encontra-se totalmente descamado e pronto para aumentar de tamanho, esta fase chama-se proliferativa, e nesse período o estrogênio promove a liberação de células que aumentam sua espessura, assim como os vasos sanguíneos e as glândulas exócrinas.

Na fase secretora, que acontece durante o período fértil, o estrogênio e a progesterona irão fazer com que o endométrio tenha todos os nutrientes necessários para a implantação e nutrição do embrião. 

Caso não ocorra a fecundação, esse tecido irá diminuir de espessura devido a queda brusca de hormônios na corrente sanguínea dando origem ao sangramento que conhecemos por menstruação. 

A principal causa do endométrio fino é a falta de progesterona, mas isso também pode acontecer devido ao uso de anticoncepcionais, útero infantil, infecção e lesões após aborto ou curetagem.

Na área da reprodução humana assistida, o momento entre a ovulação e os cinco dias subsequentes é conhecido como janela de implantação.

Para medir sua espessura, assim como avaliar as condições anatômicas do endométrio, é necessário fazer um ultrassom transvaginal. Se o endométrio for considerado fino, é necessário adequar um nova estratégia para prepará-lo para a implantação.

Nesse caso, o preparo endometrial é feito com o uso de medicamentos hormonais, à base de estrogênio na primeira fase e progesterona no período final. Com eles, consegue-se induzir o espessamento do endométrio, deixando-o em condições ideais para o desenvolvimento embrionário.

Além do US, o endométrio também pode ser avaliado por meio de exames ginecológicos a histeroscopia e a ressonância magnética, por exemplo, em que o ginecologista verifica se há algum sinal de doença ou alteração nesse tecido. 

A endometrite crônica (EC) é uma doença que, apesar de ainda pouco investigada, tem sido associada a resultados reprodutivos desfavoráveis. 

Estudos têm mostrado que a EC pode prejudicar a receptividade endometrial, levando a falhas de implantação e perdas gestacionais recorrentes.

Através de biópsias de endométrio, você pode ter uma visão completa da saúde endometrial aumentando as chances de sucesso em um tratamento de reprodução humana assistida. 

Os testes EndoméTRIO é constituídos pelo EMMA que determinará se o ambiente microbiano uterino é ideal ou não para a implantação embrionária, pelo ALICE que fornecerá uma lista com os antibióticos e probióticos recomendados na vigência de uma endometrite e pelo ERA que vai avaliar a janela de implantação orientando a transferência em pacientes com repetidas falhas de implantação.

Alguns pacientes com as alterações acima podem se beneficiar do tratamento IVI RENOVA (PRP).

Ele tem o objetivo de regenerar o endométrio da mulher, permitindo que o endométrio alcance a espessura necessária para favorecer a implantação do embrião.

O uso do PRP dentro da cavidade do útero parece aumentar o aporte sanguíneo para o endométrio e, consequentemente, sua espessura melhorando os resultados da FIV embora ainda precise ser validada com estudos científicos de peso e com um maior número de pessoas.

No endométrio, o PRP é aplicado através de um cateter (semelhante ao cateter da inseminação artificial ou da transferência embrionária) dentro da cavidade uterina a partir do oitavo dia do ciclo e pode ser repetido até a transferência embrionária.

Mas, não pense que o papel do endométrio para engravidar termina aí. É importante ressaltar que, ao deixá-lo com uma espessura adequada, previne-se uma série de complicações obstétricas, tais como a placenta acreta (implantação anormal), o descolamento placentário, a pré-eclâmpsia, aprematuridade e o crescimento intra uterino retardado entre outras.

A medicina regenerativa pode ajudar ainda as pacientes diagnosticadas com falência ovariana prematura (menopausa precoce ou antecipada – abaixo dos 40 e 50 anos respectivamente) ou mulheres com baixa reserva ovariana, onde a escassez de folículos que podem responder à estimulação ovariana resulta em baixo desempenho oocitário e alta taxa de cancelamento do ciclo após o tratamento de reprodução assistida.

A injeção de plasma enriquecido com fatores de crescimento no ovário pode permitir a restauração e reparação dos processos fisiológicos que afetam o recrutamento folicular, auxiliando na recuperação da função ovariana.

Como é realizado?

A técnica é realizada em duas fases onde após a coleta de sangue periférico que é centrifugado para a separação das células brancas, vermelhas, plasma e das plaquetas é realizado uma aplicação do PRP nos ovários por via cirúrgica ou não cirúrgica (guiada por ultrassonografia, como se fosse a punção para coleta de óvulos na FIV).

Um estudo realizado na Grécia com mulheres que apresentavam baixa reserva ovariana demonstrou redução dos níveis de FSH (67,3%), aumento do nível do AMH (75,2%) com uma gestação espontânea e um nascimento. 

Um novo artigo demonstrou resultados ainda mais promissores através da aplicação por meio da punção ovariana por, no mínimo, dois meses (uma aplicação/mês) da restauração da menstruação, melhoria do FSH, AMH e contagem de folículos em até 60% das pacientes.

O IVI, maior centro de reprodução assistida do Mundo, inaugurou em 2021 uma unidade de regeneração ovariana em Alicante, na Espanha, que promete trazer dados animadores.

Esses dados preliminares demonstram que o PRP é uma técnica promissora para mulheres com baixa reserva ovariana, mas que ainda é considerada experimental, necessitando ter sua segurança e benefício comprovados.

O acompanhamento médico é essencial para evitar complicações de cada doença, manter a saúde uterina  e ovariana, além de aumentar as chances de gravidez.

Embora a MR seja promissora na reprodução assistida, ela ainda é considerada experimental para rejuvenescimento ovariano, podendo ser indicada em alguns casos selecionados de endométrio fino após avaliação médica especializada.

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Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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