Testosterona em mulheres, repor ou não repor?
A reposição de testosterona em mulheres tem indicações muito claras no sexo masculino, porém quando se trata de reposição no sexo feminino, existem muitos pontos de interrogação.
Os estudos são limitados em número de pacientes, demonstram resultados discordantes e os efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos, fazendo com que a indicação de repor esteja reservada para casos bastante específicos.
A testosterona é um hormônio considerado masculino, afinal, sua concentração no corpo do homem é de 20 a 30 vezes maior do que no corpo feminino, porém esse hormônio tem grande importância para ambos os gêneros.
Antes da menopausa, a testosterona tem sua produção em 25% pelos ovários, 25% pelas glândulas adrenais e 50% a partir da conversão periférica da androstenediona e da DHEA.
Já no período em que se inicia o processo de menopausa, a testosterona sofre uma queda pois deixa de ser produzida pelos ovários e pela conversão periférica. Assim, a produção passa a acontecer apenas pelas glândulas adrenais, caindo cerca de 75%.
Quais são os sintomas?
A diminuição dos índices de testosterona no organismo feminino está relacionada principalmente à queda da libido, alterações na massa corporal e oscilações de humor.
Percebe-se muitas promessas de benefícios com o uso da testosterona na mídia digital ofertada por alguns profissionais médicos e não médicos relatando a melhora do vigor, da disposição e do cansaço, da memória, da composição corporal, do humor, da libido apesar de não ter comprovação nos estudos na literatura médica.
Informações baseadas em publicações e recomendações de 2019 no” The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism” e no consenso “Global Consensus Position Statement on the Use of Testosterone Therapy for Women”, formulado por entidades como Endocrino Society, International Menopause Society, The International Society for Sexual Medicine, The International Society for the Study of Women’s Sexual Health, The North American Menopause Society, dentre outras respeitadas entidades mundiais.
Estudos (metanálise) com o maior grau e confiabilidade de evidência científica mostram que a única situação em que a reposição no sexo feminino pode trazer algum grau de benefícios é em mulheres na pós menopausa com queixa de falta de interesse e prazer sexual.
Apesar da testosterona ser bastante relevante para a libido feminina, ela não é o único hormônio. Há outros hormônios envolvidos no processo de libido e que também têm a sua produção diminuída no período da menopausa ou que podem diminuir por outros motivos. São eles:
- DHEA – pré-hormônio da testosterona: responsável por regular o humor, trazem bem-estar e disposição;
- Ocitocina: o hormônio do prazer, liberado durante o orgasmo, durante o parto e em outras situações;
- Progesterona: o hormônio do bem-estar, que também tem a produção menor durante a menopausa;
- Estradiol: quando em quantidades pequenas ou altas, pode alterar a libido. Seu déficit ocorre na menopausa, já o seu excesso pode aumentar os sintomas da TPM e aumentar ou diminuir a libido feminina;
- Prolactina: o hormônio da amamentação. Quando em excesso, bloqueia a ação da testosterona e da progesterona;
- Estriol: um hormônio importante para o processo de lubrificação vaginal. Quando abaixa, o ressecamento vaginal pode ser uma queixa da paciente, o que contribui com a queda do desejo sexual;
- Cortisol: conhecido como o hormônio do “estresse”, mas que em níveis equilibrados é fundamental para a disposição e energia sexual. Quando alto ou baixo, contribui com a queda da libido;
- Insulina: os altos níveis de insulina podem aumentar os índices de testosterona livre na mulher. Ou seja, mulheres obesas, que não praticam atividade física ou possuem uma dieta rica em açúcares, podem ter a libido mais alta.
Sintomas como humor deprimido, fadiga, falta de energia e a própria menopausa não são condições que deveriam ser tratadas com testosterona pois os benefícios clínicos da terapia não são comprovados além de serem sintomas inespecíficos de vários problemas potenciais.
Qual o melhor tratamento?
Quando indicado por médicos, o tratamento com testosterona na pós menopausa deve ter cuidado com a dose, deve usar formulações transdérmicas com menos efeitos colaterais e buscar respeitar os níveis fisiológicos, caso contrário, a mulher poderá apresentar efeitos colaterais relacionados ao uso da testosterona como queda de cabelo, acne, pele oleosa, engrossamento da voz e hipertrofia do clítoris.
Importante lembrar que não existe formulações prontas de testosterona com dose adequada para o sexo feminino (apenas formulações injetáveis intramuscular destinadas à reposição hormonal masculina), podendo ser adaptada o uso do gel de testosterona.
O ponto chave que devemos ter em mente é que o hormônio sexual feminino é o estrógeno e não a testosterona.
Acontece que diversos fatores do cotidiano prejudicam a sua produção, por isso é fundamental prestar atenção aos sintomas.
Hoje, sabe-se que pode acontecer uma grande diminuição dos níveis de testosterona em condições como obesidade grau 3, infecção pelo vírus HIV, estresse psicológico, doenças debilitantes, abuso do álcool e tabagismo ou como efeito colateral de medicamentos como os derivados da cortisona, por exemplo.
Existem alimentos que aumentam a testosterona de forma fisiológica como carnes magras (como frango e porco) que é uma boa fonte de proteína e zinco, nutrientes que ajudam a otimizar a produção de testosterona, brócolis, repolho e couve-de-bruxelas, ovos, salmão, ostras, alho.
O uso excessivo de testosterona pode afetar negativamente o funcionamento da medula óssea, o fígado, coração e rins, levando a uma sobrecarga dos mesmos e possíveis lesões futuras.
A dosagem laboratorial de testosterona em mulheres, em grande parte dos casos, têm resultados imprecisos e, consequentemente, gera custos desnecessários para as pacientes com indicações erradas de reposição.
Qual a dosagem certa de testosterona em mulheres?
A dosagem de testosterona em mulheres é indicada apenas no acompanhamento de terapia com a substância ou em caso de suspeita de excesso no organismo devido aos sintomas como aumento da oleosidade na pele, acne, calvície, aumento de pelos, libido, aumento do tamanho do clitóris ou massa muscular, irregularidade ou parada da menstruação, atrofia mamária, alteração no tom da voz
Existem doenças e tumores de adrenal e de ovários que produzem testosterona em excesso com valores elevados que podem ultrapassar 200 ng/dL.
Além da testosterona, outros hormônios de ação masculinizante (DHEA, Sulfato de DHEA, Androstenediona, 17-OH progesterona, Di-hidrotestosterona) que, em mulheres, só devem ser dosados na suspeita de excesso, e não na falta, com uma indicação específica.
Isso aumenta a precisão da avaliação laboratorial, que, aliada à clínica, leva ao diagnóstico de síndrome hiperandrogênica.
De acordo com o Centro Médico da Universidade de Rochester , uma mulher deve ter um total de 15 a 70 nanogramas por decilitro (ng / dl) de testosterona no sangue. No momento, não há diretrizes conclusivas para o que deve ser considerado “baixo” níveis de testosterona em mulheres.
A dosagem da testosterona no sangue, em laboratórios comerciais, é sujeita a diversos “erros” provocados pelos métodos utilizados. Com isso, achados com valores abaixo de 150 ng/dL – situação na qual se encontram, habitualmente, mulheres e crianças – são imprecisos.
Uma pesquisa do Colégio Americano de Patologistas, que avaliou a precisão diagnóstica da dosagem de testosterona por métodos comercialmente disponíveis mostrou que os resultados, em mulheres normais, variaram até 32%, demonstrando uma “confiabilidade inaceitável” na dosagem de testosterona, comprometendo a sua utilidade clínica.
Existem métodos mais acurados para a dosagem de testosterona, mas são caros e frequentemente não disponíveis na maioria dos laboratórios.
Além disso, a dosagem que tem mais valor para orientação clínica é a da testosterona livre que não se encontra ligada ao SHBG.
Quando a reposição de testosterona não é indicado?
A reposição de testosterona é segura, mas ela é contraindicada em alguns casos como na acne severa, aumento descontrolado de pelos, casos de trombose na família, alopécia androgênica, risco de câncer de mama, entre outros.
A suplementação de testosterona é recomendada apenas a pessoas que realmente necessitam da reposição hormonal e deve ser sempre orientada por um profissional especializado, que fará o acompanhamento de todos os efeitos do hormônio no corpo, ajustando as dosagens para não comprometer o seu funcionamento normal.
Em média, 15 dias após o início do tratamento é possível notar os primeiros efeitos como melhora na disposição, aumento do desejo sexual, mais lubrificação vaginal, além de efeitos corporais como maior capacidade em ganhar massa muscular e queimar gordura diante da realização de exercícios físicos regulares.
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Sobre mim
Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular Fertilidade e Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.
Se você tem dúvidas ou quer sugerir temas para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com
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