(foto: Pexels Mart Production)

Em consultas, uso da pílula anticoncepcional cada vez mais frequente ainda traz questionamentos às vezes infundados neste mundo de informação e desinformação

Alguns questionamentos levantados são sobre os efeitos que o uso dos hormônios (como o anticoncepcional) a longo prazo pode trazer para o organismo da mulher.

Na minha opinião, a mulher moderna deve priorizar a melhora da qualidade de vida e a proteção da fertilidade através do uso dos medicamentos hormonais (por exemplo, o anticoncepcional) cada vez mais modernos e com menos efeitos colaterais.

Um deles corresponde ao impacto que a substância pode ter na fertilidade, pois a grande maioria das mulheres passa boa parte de suas vidas utilizando o medicamento.

Não existe nenhum relato científico que relacione casos de infertilidade ao uso da pílula anticoncepcional.

A confusão ocorre muito por conta do período que a mulher decide parar de tomar a substância para engravidar. Geralmente, entre seus 30 e 35 anos.

Nessa fase da vida, a produção dos folículos ovarianos, responsáveis pela produção dos óvulos femininos, tende a reduzir para menos da metade. 

Uma outra confusão se deve ao fato de que, no passado, após longo uso destes medicamentos com altas dosagens, as mulheres demoravam a voltar a menstruar pelo bloqueio hipotalâmico e hipofisário.

As pílulas atuam de várias formas neste processo de contracepção, sendo o principal através da inibição da secreção de gonadotrofinas por feedback negativo sobre o hipotálamo e hipófise, provocando inibição da ovulação ou secundariamente através do bloqueio do colo e do útero pelos progestágenos que os deixam inadequados à passagem do esperma e consequente implantação.

A primeira pílula aprovada foi em 1960 com dosagens muito altas (50 picogramas de 12/12hs), era de 3 a 6,5 vezes mais forte que as mais utilizadas nos dias de hoje (35, 30, 20 e 15 picogramas).

Apresentavam benefícios na qualidade de vida e proteção contra câncer de ovário e endométrio, apesar do aumento de câncer de mama, trombose venosa profunda e derrame decorrente de suas altas dosagens.

Planejamento familiar é um direito garantido por lei, cujo conjunto de ações e serviços tem como finalidade, contribuir para a saúde da mulher, da família e da criança, ao considerar o número de filhos que uma mulher deseja ter, a opção de não ter filhos, bem como a idade em que ela deseja tê-los com o devido espaçamento desejado entre eles.

Os benefícios do planejamento familiar são: 

  • Redução da mortalidade materna 
  • Redução da gravidez na adolescência
  • Aumento do intervalo entre as gestações
  • Redução do número de abortamentos 
  • Melhoria das relações familiares 
  • Melhora da vida sexual e a melhora no trabalho.

Paralelo ao surgimento da pílula em 1960, as mulheres iniciaram uma revolução silenciosa e discreta com redução da taxa de fecundidade brasileira de 6,3 filhos em 1960 para 2,3 filhos no início do século em 2000 e 1,95 filhos em 2007, segundo dados do Instituto de Geografia e Estatistica (IBGE)

Na década de 70 a população brasileira estimada era de 93 milhões com 28,8% das mulheres economicamente ativas,e com o número de brasileiros em 2007 igual a 184 milhões com 43,6% das mulheres economicamente ativas.

No Brasil, em um estudo de 2015, 79% das mulheres em idade fértil utilizam algum método contraceptivo como planejamento familiar, representando um índice 28% maior do que o registrado em 1970, com predomínio da contracepção hormonal reversível. 

O Brasil apresentou elevada queda de fecundidade nas últimas décadas como vimos; no entanto, diferenças sociodemográficas ainda impactam diretamente no acesso ao planejamento reprodutivo no país. 

Os métodos de contracepção são divididos em:

  • Método comportamental:
  • Barreira mecânica;
  • Barreira química;
  • Impeditivo da nidação:
  • Hormonal e cirúrgico.

De acordo com estudo transversal de 2019 (Trindade e col) que utilizou dados secundários de 17.809 mulheres que responderam à pesquisa nacional de saúde, mais de 80% das mulheres relataram utilizar algum método contraceptivo, sendo o contraceptivo oral o mais utilizado (34,2%), seguido dos cirúrgicos (25,9%) e das camisinhas (14,5%).  

As mulheres pretas/pardas, nortistas e com baixa escolaridade são mais esterilizadas, enquanto as brancas, com maior escolaridade e das Regiões Sul e Sudeste são as que mais utilizam contraceptivo oral e dupla proteção. 

Apesar das melhorias observadas, não houve diminuição da prevalência do não uso de método contraceptivo e ainda existem desigualdades de acesso à contracepção no país.

Mais de 106 milhões de mulheres do mundo inteiro estão usando o DIU, que é o segundo método de planejamento familiar mais comumente usado, logo após a esterilização voluntária feminina, sendo, porém, o mais usado entre os métodos reversíveis. As altas taxas de uso são provocadas pela China, onde vivem cerca de dois terços das usuárias de DIU do mundo.  

Uso ACO (contraceptivo hormonal oral – medicamento anticoncepcional) tem mais de 100 milhões de mulheres no mundo (35% no Brasil,  25% GRÃ-BRETANHA E 1% JAPÃO) mostrando o peso da cultura nesta tomada de decisão.

O DIU não hormonal não traz alguns dos muitos benefícios contraceptivos, como o controle do ciclo, a melhora da cólica menstrual, a diminuição do fluxo menstrual, a diminuição das dores nas mama, a melhora da tensão pré- menstrual, a proteção contra câncer de ovário e endométrio, a diminuição dos cistos funcionais do ovário, a prevenção da endometriose e miomas, a proteção da fertilidade, a melhora da pele, da acne e do hirsutismo.

Como fica a fertilidade depois de usar anticoncepcional por muito tempo?

Segundo um estudo publicado na revista Human Reproduction, se você usou anticoncepcionais orais por mais de quatro anos, não precisa se preocupar. 

Você tem mais chances de engravidar dentro do período de um ano do que mulheres que tomaram anticoncepcionais por um período de dois anos. Se o uso foi superior a 12 anos, as chances de engravidar são ainda maiores.

As pílulas são classificadas em combinadas (com estrogênio e progesterona) e apenas com progestogênio, também chamadas de minipílulas.

As combinadas dividem-se ainda em monofásicas, bifásicas e trifásicas. 

Nas monofásicas, a dose dos esteróides é constante durante toda a cartela. As bifásicas contêm duas dosagens diferentes e as trifásicas (três dosagens), tentando ser parecido com o ciclo hormonal natural.

A pílula oral é feita de hormônios parecidos com os produzidos pelo corpo: estrogênio sintético e natural e progesterona. 

O etinilestradiol (EE) é o estrogênio sintético mais utilizado com dosagens que podem ser de 50, 35, 30, 20 ou 15 picogramas,  diferente do 17 beta estradiol que é bioidêntico presente em apenas dois contraceptivos comercializados no Brasil.

Os progestágenos podem ser derivados da 17-OH-progesterona  –  pregnanos, da 19-nor-testosterona e da espironolactona que vão conferir determinados benefícios ou malefícios ,como melhora da pele, inchaço, trombose,… 

As eficácias são semelhantes, como podemos ver de acordo com o índice de Pearl.

  • Contraceptivo oral (0,1 a 3,0 falhas/100 mulheres-ano);
  • Injetáveis (< 1,0 falhas/100 mulheres-ano);
  • Implante (< 1,0 falhas/100 mulheres-ano);
  • Minipílula (1,1 a 9,6 falhas/100 mulheres-ano).

Certos medicamentos interferem com os contraceptivos hormonais, como os antibióticos, rifampicina e griseofulvina, os anticonvulsivantes como fenobarbital, hidantoína, carbamazepina e primidona.

Sofrem interferência dos contraceptivos hormonais os anticoagulantes, benzodiazepínicos, ácido fólico, imipramina e  insulina.

A forma como o hormônio é liberado, pode ser através da via oral, parenteral (intramuscular), subcutânea (adesivos, implantes), vaginal (anéis) e uterina ( DIU medicado).

A decisão entre qual método utilizar depende da avaliação da paciente que precisa responder junto ao seu médico a três perguntas. Qual método ela pretende usar? O histórico e a saúde dela permitem o uso?  E, por último e, não menos importante, ela consegue se adaptar ao mesmo? Essa última pergunta deve ser respondida após um período de avaliação não inferior a 90 dias, com exceção para o implante e o DIU.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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