Acupuntura e o poder das suas agulhas na fertilidade

Tratar infertilidade é mais do que tratar casais que querem um bebê. É cuidar das frustrações e ajudar no equilíbrio. A acupuntura melhora as taxas reprodutivas

A acupuntura tem sido cada vez mais utilizada no tratamento de doenças e distúrbios ginecológicos, ajudando nos quadros dolorosos, nos sintomas da menopausa, nos distúrbios menstruais e na infertilidade.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a infertilidade conjugal acomete 15% dos casais em idade reprodutiva.

Este percentual pode sofrer variações em função de diversos fatores, dependendo da população que está sendo avaliada.

Um dos fatores que mais influenciam é a idade, pois muitos casais demoram a casar ou juntar-se e esperam ter filhos após estar financeiramente estabelecidos ou com suas carreiras estáveis.

O aumento da idade leva à diminuição das chances de engravidar, assim como a um aumento das possibilidades de perda fetal ou aborto.

A acupuntura foi reconhecida como uma especialidade médica em 1995, com surgimento dos primeiros trabalhos na infertilidade em 2002.

Em 19 de novembro de 2010, a acupuntura foi declarada Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Geralmente, a acupuntura é segura, quando exercida apropriadamente por profissionais treinados e certificados, usando agulhas esterilizadas ou de uso único. Quando indicada e aplicada corretamente, apresenta baixo grau de efeitos colaterais.

Acupuntura é uma forma de medicina alternativa e um ramo da medicina tradicional chinesa (MTC), no qual finas agulhas são inseridas em pontos definidos do corpo – chamados de “Pontos de Acupuntura” ou “Acupontos” – que se distribuem principalmente sobre linhas chamadas “meridianos” ou “canais de energia”, para obter diferentes efeitos terapêuticos de forma individualizada.

O leque de opções do acupunturista, entretanto, costuma ser bem mais amplo, podendo-se estimular os acupontos e meridianos com os dedos (do-in), instrumentos específicos semelhantes a um pente de osso ou jade (gua sha), ventosas (ventosaterapia), massagens (tui na) e outras técnicas como, por exemplo, a sangria.

Existem dois ramos principais da acupuntura: o que se baseia nos oito princípios da medicina tradicional chinesa, e o que se baseia na teoria dos cinco elementos.

Sua teoria geral é baseada na premissa de que existem padrões de fluxo de energia (Qi) através do corpo, que são essenciais para a saúde, e a desregularização desse fluxo energético resulta na doença.

A técnica corrige os desequilíbrios do fluxo, auxiliando no tratamento da doença.

A medicina tradicional chinesa identifica vários padrões de desarmonia nos casos de infertilidade em mulheres, incluindo falta de energia, ciclos menstruais irregulares e cansaço excessivo

O uso da acupuntura na infertilidade pode se dar em dois contextos diferentes. O primeiro em pacientes com infertilidade, sem causa aparente (ISCA), e o segundo no auxílio das técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro (FIV).

O médico acupunturista deve ser cuidadoso ao acompanhar as pacientes que o procuram para tentar engravidar, pois antes de tudo é necessário o diagnóstico e acompanhamento correto da infertilidade por um especialista (ginecologista ou infertileuta).

A acupuntura precisa ser usada como terapia complementar à fertilização assistida, e não como forma exclusiva de tratamento da infertilidade.

Nos dias de hoje, as clínicas de reprodução humana têm recomendado o uso da acupuntura como um tratamento complementar aos ciclos de FIV.

Pacientes que realizaram a acupuntura simultaneamente ao tratamento de fertilização assistida tiveram notadamente maior índice de gravidez que aquelas que só fizeram a FIV (cerca de 10% a 12% a mais de pacientes grávidas no grupo com acupuntura).

Os efeitos relatados da acupuntura para a fertilidade incluem:

  1. Aumento do fluxo de sangue na região do útero e dos ovários
  2. Liberação de um neuro-hormônio chamado de β-endorfina e outros neuropeptídeos que estão presentes no hipotálamo, hipófise, medula e ovários.
  3. Regularização dos ciclos através da sua ação no eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Sabe-se que o estresse afeta diretamente a ovulação e pode chegar até a inibi-la em alguns casos.
  4. Redução do estresse, através da liberação de substâncias específicas.
  5. Diminuição dos efeitos colaterais das medicações da FIV, como irritabilidade, aumento de peso, inchaço, dores de cabeça, mal-estar geral do corpo.
  6. Melhora a qualidade dos óvulos que serão utilizados naquele ciclo.
  7. Melhora da nidação (implantação na parede do útero) e desenvolvimento do embrião após a transferência.
  8. Oportunidade de relaxamento, consciência corporal e promoção da saúde, focando no bem-estar corporal e autoconfiança da mulher. Aqui não se trata de quais pontos, e sim da visão do todo, da capacidade de escuta e percepção da necessidade de cada paciente.

A recomendação é que o tratamento com as agulhas se inicie antes do processo de fertilização, para melhorar o estado geral da mulher, sempre com o acompanhamento do médico. O tratamento pode ser realizado até com duas sessões semanais nos meses que antecedem o procedimento.

Durante o ciclo da FIV, a acupuntura deve ser realizada antes e logo após a transferência de embriões, na Clínica de Reprodução Assistida, sendo este o dia considerado mais importante de acordo com os trabalhos.

Segundo os trabalhos científicos, a acupuntura pode aumentar em até 15% a 20% as chances de uma gravidez, como podemos observar a seguir:

– Paulus et al, em 2002, mostrou aumento da taxa de gravidez pós acupuntura de 26% para 42%

– Em 2006, Dieterle et al, Smith et al, Westergaard et al com aumento da taxa de gravidez pós acupuntura de 15% para 43%, 22% para 30%, 21% para 35% respectivamente

– Teshima, em 2007, publicou um trabalho nos anais do congresso da ASRM em Washington , mostrando a experiência de 3 anos no tratamento da infertilidade no Brasil, mostrando uma melhora de 37% para 51% ao se associar a acupuntura aos ciclos de FIV no dia da transferência de embriões.

– Mannheimer, em 2008, com sua meta análise com 7 estudos e 1366 pacientes, mostrou um aumento das taxas de gestação clínica (OR 1,65), gravidez viável (OR1,87) e nascidos vivos (OR 1,91)

– Ng et al analisaram 10 estudos randomizados e obtiveram um aumento da taxa de gravidez clínica (OR 1,42 e OR 1,83) quando realizado antes e no dia da transferência de embriões

A Sociedade Brasileira de Reprodução Humana reconheceu a acupuntura como um tratamento complementar recomendado para melhorar a infertilidade, associado às técnicas de reprodução assistida, contando com um capítulo no seu Tratado de Reprodução Assistida desde 2011.

Os tratamentos contra a infertilidade costumam ser bastante estressantes, pois demandam muitos processos que, somados à ansiedade natural da mulher, são capazes de gerar um desequilíbrio.

Existe uma necessidade de mais estudos sobre o assunto, mas os dados existentes validam o uso da acupuntura em conjunto com os tratamentos da reprodução assistida, orientados por um especialista em reprodução humana.

Gustavo Safe é diretor e médico especialista em endometriose no Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Clínica Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

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